Museu de Belas Artes
No que respeita ao sofrimento, nunca se enganavam
Os velhos Mestres: quão bem lhe compreendiam
A humana posição; de que maneira ocorre
Enquanto alguém está comendo ou abrindo uma janela ou somente andando ao léu;
Como, quando os de idade aguardam reverente, apaixonadamente
O milagroso nascimento, deve sempre haver
Crianças que não desejam particularmente que aconteça, patinando
Num lago junto à beira da floresta:
Eles jamais esquecem
Que mesmo o pavoroso martírio deve prosseguir seu curso
De qualquer modo num canto, nalgum lugar desasseado
Onde os cães levam sua vida canina e o cavalo do algoz
Raspa o traseiro inocente de encontro a uma árvore.
No Ícaro de Brueghel, por exemplo: como tudo volta as costas
Pachorrentamente ao desastre; o arador bem pode ter ouvido
A pancada n’água, o grito interrompido,
Mas para ele não era importante o malogro; o sol brilhava
Como cumpria sobre as alvas pernas a sumir-se nas águas
Esverdeadas; e o delicado barco de luxo que devia ter visto
Algo surpreendente, um rapaz despencando do céu,
Precisava ir a alguma parte e continuou calmamente a velejar.
W. H. Auden
(Tradução de José Paulo Paes)
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