segunda-feira, 12 de outubro de 2020

"Luar" - Poema de Victor Hugo


Everett Shinn, "Madison Square Tower," 1904
 
 

Luar  
 
                                                           Per amica silentia lunae.
                                                                                – Virgílio

Serena paira a lua e nas ondas rebrilha.
Livre a janela, enfim, aberta para a brisa,
A sultana olha, além, e o mar que se repisa,
Com um fluxo de prata adorna as negras ilhas.

Vibrando, de seus dedos, escapa a guitarra.
Ela ouve… Um surdo som golpeia os surdos ecos.
Uma grande nau turca a vir de águas de Cos
A agitar o arquipélago com remos tártaros?

Os alcatrazes, um a um, a mergulhar
Cotando a água que rola em pérolas sobre as asas?
Será um djim que lá do alto assovia em voz rasa
E lança ameias lá da torre para o mar?

Quem pois resolve as vagas lá perto do harém?
Nem o negro alcatraz sobre o fluxo embalado,
Nem as pedras do muro ou o rumo ritmado
Da grande nau pela onda e remos em vaivém.

São alforjes de peso; e dos prantos a trilha.
Ver-se-ia ao sondar o mar que os engalana,
Moverem-se em seus flancos tal qual forma humana…
Serena paira a lua e nas ondas rebrilha.


Victor Hugo
, em “Poetas Franceses do Século XIX”
 [organização e tradução José Lino Grünewald]
 Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991
 
 
Everett Shinn, Girl with Japanese Lanterns, 1912, oil on canvas, 30.5 x 25.4 cm

 
"Nada é mais precioso do que a luz; mas o excesso ofusca." 
 
 
 

Sem comentários: