segunda-feira, 19 de outubro de 2020

"Diz-me, amor, como te sou querida" - Poema de Florbela Espanca




Diz-me, amor, como te sou querida



Diz-me, Amor, como te sou querida,
Conta-me a glória do teu sonho eleito,
Aninha-me a sorrir junto ao teu peito,
Arranca-me dos pântanos da vida.

Embriagada numa estranha lida,
Trago nas mãos o coração desfeito,
Mostra-me a luz, ensina-me o preceito
Que me salve e levante redimida!

Nesta negra cisterna em que me afundo,
Sem quimeras, sem crenças, sem ternura,
Agonia sem fé dum moribundo,

Grito o teu nome numa sede estranha,
Como se fosse, Amor, toda a frescura
Das cristalinas águas da montanha! 


Florbela Espanca,
in "A Mensageira das Violetas"
 
 

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