terça-feira, 25 de outubro de 2022

"Mãe" - Poema de Sérgio Capparelli


 
João Marques de Oliveira (Porto, 1853-1927), Menino com arco, 1885
 
 

Mãe


De patins, de bicicleta,
de carro, moto, avião
nas asas da borboleta
e nos olhos do gavião
de barco, de velocípedes
a cavalo num trovão
nas cores do arco-íris
no rugido de um leão
na graça de um golfinho
e no germinar do grão
teu nome eu trago, mãe,
na palma da minha mão 
 
ed. Vera Aguiar (Coord.), Porto Alegre,
Editora Projeto
 

De Vera Aguiar, Simone Assumpção, Sissa Jacoby.
 Il. Laura Castilhos. Porto Alegre: Projeto, 1995. 128p 
 

"Poesia fora da estante" é uma antologia de poemas de 30 autores selecionados criteriosamente para dar às crianças uma boa oportunidade de convívio com textos em versos. Os autores estão tanto entre aqueles que produziram deliberadamente para crianças como entre aqueles que, tendo produzido literatura para adultos, podem ser lidos pelas crianças com prazer e encantamento, seja pela temática seja pela estruturação linguística. São representantes de épocas e de correntes estéticas diferentes, mas todos têm tradição e reconhecimento público na nossa história literária.

Essa coletânea é o resultado de um trabalho cuidadoso de análise e seleção entre as milhares de possibilidades que oferecem as obras de: Guilherme de Almeida, Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Walmir Ayala, Ronald Azeredo, Elza Beatriz, Tatiana Belinky, Mario da Silva Brito, Alcides Buss, Dilan Camargo, Milton Camargo, Haroldo de Campos, Sérgio Caparelli, Maria Dinorah, Millor Fernandes, Ferreira Gullar, Paulo Leminski, Elias José, Jorge de Lima, Henriqueta Lisboa, Vinicius de Moraes, Mauro Mota, Sidônio Muralha, Roseana Murray, Libério Neves, José Paulo Paes, Mário Quintana e Gilberto Mendonça Teles. Há também versos anônimos que pertencem à tradição popular, ao folclore.

Os poemas foram escolhidos com o objetivo de provocar um convívio lúdico com o texto e, ao mesmo tempo, oferecer formação estética e cultural, desenvolvendo o gosto pelo texto de qualidade. Vão desde a quadrinha bem humorada, às reflexões filosóficas e à preocupação formal, como a poesia concreta que utiliza o espaço gráfico como elemento visual da composição.

Estão agrupados em subconjuntos que simultaneamente oferecem uma perspetiva dos recursos estruturais e composicionais agenciados e uma coerência temática. Esses agrupamentos compõem jogos polissémicos e novas possibilidades de leitura, enquanto procuram mostrar que: a poesia está em toda parte; as palavras são elementos de construção; a poesia é uma forma de jogo que dá prazer e alegria; os poemas falam da vida, das coisas, dos bichos e das emoções; e que a poesia é um produto duradouro, que pertence ao povo e que atravessa o espaço e o tempo.

Há uma preocupação em organizar visualmente a página de forma acessível aos leitores iniciantes, embora a fonte escolhida para os títulos possa causar um certo desconforto inicial. A programação gráfica em duas cores (azul colonial e amarelo ocre) é esteticamente bem solucionada. As ilustrações não interferem e lembram pequenas iluminuras, selos, vinhetas delicadas que alegram e dão movimento ao conjunto.

Embora a produção cultural literária no Brasil já tenha tentado dirigir ao público infantil um acervo considerável de textos poéticos, uma iniciativa dessa natureza, com caráter de coletânea moderna, ainda não tinha vindo a lume. É uma oportunidade valiosa de ter acesso a um corpus representativo e bem organizado tanto para o trabalho na escola, como para a leitura no lar. É importante que a criança não perca sua afinidade natural com a musicalidade da linguagem, tão presente nos primeiros anos, e continue a ter contacto contínuo e permanente com a linguagem poética. A leitura, a audição, a declamação de versos desenvolve a sensibilidade estética, as habilidades linguísticas e a competência para lidar com o simbólico.

Os organizadores são pesquisadores do Rio Grande do Sul, que obtiveram apoio institucional para realizar o trabalho. Têm tradição no trabalho universitário e também nas atividades não propriamente académicas com o estímulo à leitura. (Daqui)


João Marques de Oliveira, Rapaz, 1922, Coleção particular

[Grande pintor e animador da vida artística portuguesa, nascido em 1853 e falecido em 1927, João Marques de Oliveira, foi, juntamente com Silva Porto, um dos mais importantes nomes do naturalismo português. Trouxe para a pintura nacional uma pujança e uma frescura de há muito desaparecida. Escolhia como temas preferenciais as paisagens campestres nortenhas, onde o homem do Norte é amplamente retratado. Foi um dos principais responsáveis pelo aparecimento das revistas Arte Portuguesa, no Porto, e Crónica Ilustrada, em Lisboa.] (daqui)
 

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