Recordação
E tu esperas, aguardas a única coisa
que aumentaria infinitamente a tua vida;
o poderoso, o extraordinário,
o despertar das pedras,
os abismos com que te deparas.
Nas estantes brilham
os volumes em castanho e ouro;
e tu pensas em países viajados,
em quadros, nas vestes
de mulheres encontradas e já perdidas.
E então de súbito sabes: era isso.
Ergues-te e diante de ti estão
angústia e forma e oração
de certo ano que passou.
Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"
Tradução de Maria João Costa Pereira
Rainer Maria Rilke, escritor modernista alemão, nasceu em 1875, em Praga, e faleceu em 1926, no sanatório de Valmont, vítima de leucemia. Tendo frequentado a Academia Militar e as universidades de Munique e Berlim, produziu, durante a infância e a adolescência, as primeiras coletâneas líricas - entre elas, Leben und Lieder (1896) e Advent (1898). A sua obra, influenciada pelos anos que passou em Praga e pelas diversas viagens que fez pela Europa ao longo da vida, é muito vasta. Merecem destaque especial, no romance, Die Aufzeichnungen des Malte Laurids Brigge (Os Cadernos de Malte Laurids Brigge, 1910), e na poesia Sonette an Orpheus (Sonetos a Orfeu, 1923) e Duineser Elegien (Elegias de Duino, 1923). (daqui)
Tradução e nota introdutória de Maria João Costa Pereira
Ano: 2005
"O Livro das Imagens é uma obra que Rilke escreveu na juventude,
atravessada pela escrita de algumas das suas criações mais importantes
(...) é uma compilação das diferentes fases criativas do poeta, dando-lhe
um carácter híbrido e algo desconcertante. (...) Trata-se de uma obra
composta por quase todo o tipo de poemas escritos por Rilke e nele estão
já presentes muitos dos seus temas de culto: a natureza, a noite, a
religiosidade, a solidão, a morte, a angústia, o amor. Sendo uma obra de
juventude, O Livro das Imagens inclui alguns dos seus poemas mais
conhecidos e mais amados, invariavelmente incluídos nas antologias, como
Intróito, Outono, Oração e Anoitecer e traz em si a marca de muito do
que viria a ser a criação da maturidade do poeta."
Enquanto Rilke escreveu muito rapidamente algumas das suas grandes
obras, O Livro das Imagens demoraria sete anos a chegar à sua forma
final. A primeira edição remonta a Julho de 1902 e recolhia quarenta e
cinco poemas escritos entre 1898 e 1901, a maior parte dos quais
retirados do diário do autor. Rilke tinha então 26 anos. Em Dezembro de
1906, seria publicada uma segunda edição que modificava e aumentava
significativamente a anterior. Eram-lhe acrescentados trinta e sete
novos poemas, a ordem inicial pela qual eram apresentados os poemas
anteriores fora modificada, um poema foi eliminado, assim como o verso
final de um outro, foram dados títulos a poemas que antes os não tinham,
outros que se apresentavam separados seriam unificados num só e a obra
foi finalmente dividida em dois livros, cada um dos quais com duas
partes.
As circunstâncias do poeta desempenhariam igualmente um papel determinante nesta obra, cuja conceção foi pontuada por acontecimentos significativos na sua vida: a atribulada relação amorosa com Lou Andreas-Salomé, as duas viagens de ambos à Rússia, a estada em Worspwede durante a qual conheceria a escultora Clara Westhoff, sua futura mulher, e Paula Becker, com quem manteve uma relação ambivalente, o período que passou em Paris, o nascimento da filha Ruth e o seu progressivo distanciamento da família.
Podem seguir-se em O Livro das Imagens os indícios destes acontecimentos e respetivas influências, pois ele constitui como que uma compilação das diferentes fases criativas do autor, dando-lhe um carácter híbrido e algo desconcertante. (daqui)
As circunstâncias do poeta desempenhariam igualmente um papel determinante nesta obra, cuja conceção foi pontuada por acontecimentos significativos na sua vida: a atribulada relação amorosa com Lou Andreas-Salomé, as duas viagens de ambos à Rússia, a estada em Worspwede durante a qual conheceria a escultora Clara Westhoff, sua futura mulher, e Paula Becker, com quem manteve uma relação ambivalente, o período que passou em Paris, o nascimento da filha Ruth e o seu progressivo distanciamento da família.
Podem seguir-se em O Livro das Imagens os indícios destes acontecimentos e respetivas influências, pois ele constitui como que uma compilação das diferentes fases criativas do autor, dando-lhe um carácter híbrido e algo desconcertante. (daqui)
National Academy of Design, New York
Thomas Cowperthwait Eakins (25 de julho de 1844 - 25 de junho de 1916) foi um pintor realista americano, fotógrafo, professor e educador de artes plásticas. Ele é amplamente reconhecido como um dos artistas mais importantes da história da arte americana.
Ao longo de toda sua carreira Eakins trabalhou num estilo realista, tendo o ser humano como centro temático. Pintou centenas de retratos, que em conjunto dão um panorama da vida intelectual da Filadélfia em seu tempo, e isolados são penetrantes visões sobre os indivíduos. Como professor foi um nome altamente respeitado e muito influente no circuito das artes norte-americanas, apesar de escândalos pessoais terem prejudicado um sucesso mais amplo. Na fotografia foi um inovador, usando abordagens ousadas para sua época. Hoje é considerado o mais importante realista dos Estados Unidos na virada do século XIX para o século XX.
Durante o período de sua carreira profissional, desde o início da década de 1870 até que sua saúde começou a falhar, por volta de 40 anos depois, Eakins trabalhou rigorosamente, escolhendo como objeto para sua arte as pessoas de sua cidade natal, Filadélfia, na Pensilvânia. Ele pintou centenas de retratos, geralmente de amigos, membros da família ou pessoas proeminentes na arte, ciência, medicina e do clero. Vistos em conjunto, os retratos oferecem uma visão geral da vida intelectual de Filadélfia no final do século XIX, e início do século XX; individualmente, são representações incisivas de pessoas pensantes.
Além disso, Eakins produziu uma série de grandes pinturas, que o levaram de retratos em sua sala a pinturas em escritórios, nas ruas, em parques, rios, arenas e anfiteatros de sua cidade. Esses locais ao ar livre lhe permitiram pintar o tema que mais o inspirou: pessoas nuas ou levemente vestidas em movimento. No processo, ele poderia modelar as formas do corpo na plena luz solar, e criar imagens de espaço profundo, utilizando seus estudos em perspetiva. Eakins também se interessou pelas novas tecnologias da fotografia de movimento, um campo em que ele agora é visto como um inovador.
Não menos importante na vida de Eakins, foi seu trabalho como professor. Como instrutor, ele era uma presença com alta influência na arte americana. As dificuldades que o atormentaram como artista que procurava pintar o retrato e a figura de forma realista, foram paralelizadas e até mesmo amplificadas em sua carreira de educador, onde os escândalos comportamentais e sexuais atrapalharam seu sucesso e danificaram sua reputação. Eakins era uma figura controversa, cujo trabalho recebeu pouco reconhecimento oficial durante sua vida. Desde a sua morte, ele foi celebrado pelos historiadores da arte americanos como "o mais forte e mais profundamente realista da arte americana do século XIX e início do século XX". (daqui)
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