sexta-feira, 7 de outubro de 2022

"Chuva de pedra" - Poema de Menotti Del Picchia


Wassily Kandinsky (1866-1944), Landscape with Rain, January, 1913 – óleo sobre tela, 
70,2 x 78,1 cm,  Solomon R. Guggenheim Museum - New York, USA (Abstract art)
 

 
Chuva de pedra


O granizo salpica o chão como se as mãos das nuvens
quebrassem com estrondo um pedaço de gelo
para a salada de fruta dos pomares...

O cafezal, numa carreira alucinada,
grimpa as lombas de ocre
apedrejada matilha de cães verdes...

Fremem, gotejam eriçadas suas copas
como pelos de um animal todo molhado.

O céu é uma pedreira cor de zinco
onde estoura a dinamite dos coriscos.

Rola de fraga em fraga a lasca retumbante
de um trovão.

Os riachos
correm com seus pés invisíveis e líquidos
para o abrigo das furnas. No terreiro,
as roupas penduradas nos varais
dançam, funambulescas, com as pedradas,
numa fila macabra de enforcados! 


Menotti Del Picchia
, Chuva de pedra, 1925

 

Maurice Prendergast (American (born in Canada), 1858–1924), Umbrellas in the Rain,
 

"Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é."

8-11-1915  
 

“Poemas Inconjuntos”. In Poemas de Alberto Caeiro
(Heterónimo de  Fernando Pessoa)

 
Claude Monet (French, 1840-1926), Morning on the Seine in the Rain, 1897-1898, 
óleo sobre tela. National Museum of Western Art, Toquio, Japão (Impressionism)



Provérbios portugueses (daqui)
 
 
“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.”
 
[Significa que «a tenacidade vence todas as dificuldades» (in Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes, de Emanuel de Moura Correia e Persília de Melim Teixeira, Papiro Editora).]


“Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal.”

[Significa que «é difícil ter, ao mesmo tempo, duas coisas opostas.»]

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