És a saga de ternura
Das cantigas de ninar.
Sugestão de iluminura
Nas histórias de encantar.
Clarão de candeia pura
Sobre o livro de rezar.
Fada boa envelhecida.
Tecedeira de ilusão.
Esperança comovida.
Doce crença de cristão.
Duas vezes mãe na vida.
Duas vezes devoção.
Stella Leonardos, na revista “Fon-Fon”, 1943
Poeta, escritora, tradutora, dramaturga, Stella Leonardos deixou uma obra
extensa, traduzida em vários idiomas, notável pela erudição e
sensibilidade.
Stella Leonardos da Silva Lima (Rio de Janeiro, 1923 – 2019) nasceu no
bairro da Gávea, com escritores e intelectuais entre seus antepassados
próximos. Começou a escrever poemas ainda criança e rascunhou o primeiro
romance nos cadernos escolares. Na adolescência estudou francês, inglês
e a língua tupi, o que a aproximou dos estudos de história e cultura
brasileiras que já a fascinavam e que ela viria a desenvolver em sua
obra. Publicou seu primeiro poema na revista “Fon-Fon” e, em 1940, um
livro, também de poesia, “Passos na Areia”. No ano seguinte publicou “E
Assim se Formou a Nossa Raça”(aqui), onde recontava lendas brasileiras em
versos decassílabos.
Entre os anos 1943 e 1945, Stella Leonardos participou de um grupo de
teatro amador e viu ser encenada sua peça “Palmares” pelo grupo Teatro
do Estudante, com a colaboração do Teatro Experimental do Negro,
dirigido por Abdias do Nascimento. Em 1945 casou-se com o
norte-americano, de origem latina, Alejandro Cabassa, com quem viveu por
algum tempo no México e nos Estados Unidos. Lá participou de
conferências literárias e culturais, representando o Brasil, e fez uma
pós-graduação em Línguas Neolatinas, complementando o curso que
concluíra na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A produção da autora inclui romances, peças teatrais para crianças e
adultos, ensaios, adaptações, traduções e sobretudo poesia, que os
estudiosos consideram vinculada à terceira geração dos modernistas.
Ganhou inúmeros prémios, vários dos quais atribuídos pela Academia
Brasileira de Letras. Entre eles, o Olavo Bilac, em 1957, pela trilogia
de livros “Poesia em Três Tempos” (aqui).
Uma parte importante da obra de Stella Leonardos foi por ela denominada
“Projeto Brasil”. Trata-se da tentativa de retratar os mitos, a cultura e
a história do Brasil por meio de poemas longos, reunidos em livros que
ela denominava “romanceiros” e “cancioneiros”, aproximando-os das obras
medievais de bardos e rapsodos. Entre outras obras do projeto estão o
“Cancioneiro de São Luís” (1981), dedicado à capital maranhense, o
“Romanceiro da Abolição” (1986), que narra a saga dos africanos
escravizados em terras brasileiras, e “Rapsódia Sergipana” (1995), em
que a autora faz sua obra dialogar com uma carta autobiográfica do
folclorista Sílvio Romero, assim criando uma saborosa intertextualidade.
O mesmo recurso já fora notado por Nelly Novaes Coelho, duas décadas
antes, ao analisar “Amanhecência”, livro em que Stella Leonardos começa
por delinear as raízes líricas, ancestrais, da língua portuguesa para
depois abordar o universo poético dos autores brasileiros, chegando aos
contemporâneos.
Stella Leonardos era membro do Pen Club e da Academia Carioca de Letras.
Conviveu com escritores de várias gerações, muitos dos quais afirmaram
ter sido incentivados por ela no início de suas carreiras literárias.
Hoje a maior parte de seus livros está fora de edição, mas vale a pena
garimpar os “sebos” em busca de sua poesia e das histórias que ela soube
tão bem contar. (Daqui)
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