Óleo sobre lienzo, 59.7 x 79.5 cm, Museo Gregorio Prieto.
Penas
Se eu soubesse que voando
alcançava o que desejo,
mandava fazer as asas,
que as penas são de sobejo.
Cant. Popul.
Como diferem das minhas
as penas das avezinhas,
que de leves, leva o ar!
As minhas pesam-me tanto,
que às vezes já nem o pranto
lhes alivia o pesar.
O passarinho tem penas,
que em lindas tardes amenas
o levam por esses montes,
de colinas em colinas,
ou nas extensas campinas
a descobrir horizontes!
alguma pena lhe cai;
mas a essa pena afaz-se,
entretanto, a outra nasce,
e tudo esquece e... lá vai.
E as minhas penas não caem
nem voam nunca, nem saem
comigo desta amargura!
Mostram-me apenas na vida
A estrada, já conhecida,
trilhada pelos sem ventura.
Passam dias, passam meses
passa o ano muitas vezes
sem que uma pena se vá!...
E, se uma vai, mais pequena,
ao depois nem vale a pena
porque mais penas me dá.
São bem felizes as aves!
como são leves, suaves,
as penas que Deus lhe deu!
Só as minhas pesam tanto!...
Ai! se tu soubesses quanto!...
Sabe-o Deus e sei-o eu.
Fernando Caldeira (1841-1894)
Em: A Vida elegante: O Jornal das Senhoras,
Ano: 1909 / Edição 00001
Museo Fundación Gregorio Prieto
Fases da Vida
e parti. Veio o sol, e então, segui-a
a sombra, que eu julgava guiadora,
a minha própria sombra fugidia.
E foi subindo o sol; Ao meio dia,
escondeu-se-me aos pés a sombra; agora,
se volvo o olhar onde passei outrora,
vejo-a seguir-me, a sombra que eu seguia.
A gente é o sol de um dia; sobe, avança,
passa o zénite e vai na imensidade
apagar-se do mar, onde se lança.
E a vida é a própria sombra; meia idade,
somos nós que a seguimos, e é a Esperança;
depois segue-nos ela: é a Saudade.
Fernando Caldeira,
Edições Unicepe, 2004.
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