Alessandro Pomi (Italian Impressionist painter, 1890–1976)
Sol do Mendigo
Olhai o vagabundo que nada tem
e leva o Sol na algibeira!
Quando a noite vem
pendura o sol na beira dum valado
e dorme toda a noite à soalheira...
Pela manhã acorda tonto de luz.
Vai ao povoado
e grita:
- Quem me roubou o sol que vai tão alto?
E uns senhores muito sérios
rosnam:
- Que grande bebedeira!
E só à noite se cala o pobre.
Atira-se para o lado,
dorme, dorme...
E toda a noite o sol o cobre...
Olhai o vagabundo que nada tem
e leva o Sol na algibeira!
Quando a noite vem
pendura o sol na beira dum valado
e dorme toda a noite à soalheira...
Pela manhã acorda tonto de luz.
Vai ao povoado
e grita:
- Quem me roubou o sol que vai tão alto?
E uns senhores muito sérios
rosnam:
- Que grande bebedeira!
E só à noite se cala o pobre.
Atira-se para o lado,
dorme, dorme...
E toda a noite o sol o cobre...
Manuel da Fonseca, escritor português, vulto destacado do Neorrealismo, nasceu a 15 de outubro de 1911, em Santiago do Cacém, e morreu a 11 de março de 1993, em Lisboa.
Partiu ainda jovem para Lisboa
para realizar estudos secundários, tendo desempenhado posteriormente na
capital diversas atividades profissionais no comércio, na indústria e
no jornalismo.
Antes de colaborar em Novo Cancioneiro, com Planície, coleção onde se afirmariam algumas coordenadas da estética poética Neorrealista numa primeira fase, editou, em 1940, Rosa dos Ventos, obra pioneira do neorrealismo poético português, nascida do convívio com um grupo de jovens escritores, entre os quais Mário Dionísio, José Gomes Ferreira, Rodrigues Miguéis, Manuel Mendes
e Armindo Rodrigues, unidos numa "obstinada recusa de ser feliz num
mundo agressivamente infeliz, uma ânsia de dádiva total e o grande sonho
de criar uma literatura nova, radicada na convicção de que, na luta
imensa pela libertação do Homem, ela teria um papel estimável a
desempenhar contra o egoísmo, os interesses mesquinhos, a conivência, a
indiferença perante o crime, a glorificação de um mundo podre"
(DIONÍSIO, Mário - prefácio a Obra Poética de Manuel da Fonseca,
1984, p. 21).
Não existindo descontinuidade entre a poesia e a prosa de
Manuel da Fonseca, nem entre ambas e o escritor, que as impregna de um
cariz autobiográfico, alimentado por recordações da convivência com o
homem alentejano, ficção e obra poética interpenetram-se na evocação de
personagens, narrativas, romances, paisagens alentejanas. Mário Dionísio (id.
pp. 32-33) vê na oposição cidade/vila, recorrente na obra de Manuel da
Fonseca, a oposição entre o que é "apaixonado e violento, desgraçado e
heroico, profundamente humano, grave, limpo" e o que é ridículo,
repugnante, mesquinho, "de ambição medíocre, de preconceitos míseros,
que desvirtuam e lentamente asfixiam uma imagem ideal de vida que, na
poesia de Manuel da Fonseca, quase sempre se identifica com tudo o que a
infância e a adolescência têm de ingénuo e generoso e transparente e
que a vida embacia, adultera e destrói."
Autor de uma obra ancorada na
realidade e eivada de um apontado regionalismo, a escrita de Manuel da
Fonseca ultrapassa a contingência histórica de que nasceu, por um
enaltecimento da vida, compreendida como intrinsecamente livre das
imposições, frustrações, mentiras e condicionamentos impostos pela
sociedade, ânsia de libertação, simbolizada, por exemplo, na repressão
sexual imposta a algumas figuras femininas ou na admiração de figuras
marginais como o "maltês" ou o vagabundo.
Cerromaior (1943), O Fogo e as Cinzas (1951) e Seara de Vento (1958) são algumas das suas obras mais emblemáticas. (daqui)
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