Jaime Murteira (Pintor português, 1910 - 1986), Vilar de Mouros, Portugal, s.d.
As árvores
Árvores maternais,
À luz do sol, em dias estivais,
O rústico mendigo,
Junto de vós, encontra abençoado abrigo…
Deita-se, a descansar
Do seu pesado e eterno caminhar.
Sob os ramos em flor,
Que dão à sua mágoa alívio, aroma e cor.
Porque a humana tristeza.
Perante a Natureza,
Embebe-se de azul, de cantos de ave
E se afasta de nós mais pálida e suave.
Ó árvores piedosas.
Pelas manhãs formosas.
Quando etéreo fulgor, que se anuncia.
Vossas lágrimas muda em risos de alegria!
Bendito o vosso corpo imaculado,
A arder, num lar sagrado.
Bendito o vosso fruto e flor, que vem dos céus.
Minhas irmãs em Deus.
Que simpatia imensa
Me prende à sua angélica presença,
Onde, em cristais, retine a voz do rouxinol
E, em tinta verde, coalha a luz do sol!
E que infinita mágoa
Eu sinto, quando o tempo, a escorrer água,
Como um fantasma esvoaça
E lhes despe a verdura, o mimo, a graça.
E têm vozes de choro,
Nas ramagens, que agita um zéfiro de agouro;
São suspiros de dor, ais tristes de abandono,
A elegia do outono.
E esse canto ideal
Satura-me de bruma espiritual;
Dilui-me num crepúsculo sem fim,
E vivo para tudo e morro para mim...
Teixeira de Pascoaes, Vida Etérea, 1906.
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