Martinus Rørbye (Danish painter, 1803–1848), View from the Artist's Window, 1825.
A Janela e o Sol
“Deixa-me entrar, - dizia o sol - suspende
A cortina, soabre-te! Preciso
O íris trémulo ver que o sonho acende
Em seu sereno virginal sorriso.
Dá-me uma fresta só do paraíso
Vedado, se o ser nele inteiro ofende...
E eu, como o eunuco, estúpido, indeciso,
Ver-lhe-ei o rosto que na sombra esplende.”
E, fechando-se mais, zelosa e firme,
Respondia a janela: “Tem-te, ousado!
Não te deixo passar! Eu, néscia, abrir-me!
E esta que dorme, sol, que não diria
Ao ver-te o olhar por trás do cortinado,
E ao ver-se a um tempo desnudada e fria?!”
Alberto de Oliveira, Sonetos e poemas, 1886.
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