quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

"Chuva e Sol" - Poema de Raimundo Correia



Norman Garstin
(Irish artist, teacher, art critic and journalist associated with the Newlyn School 
 of painters, 1847–1926), The Rain It Raineth Every Day, 1889, Penlee House.
 
 
 
Chuva e Sol 

 
Agrada à vista e à fantasia agrada
Ver-te, através do prisma de diamantes
Da chuva, assim ferida e atravessada
Do sol pelos venábulos radiantes...

Vais e molhas-te, embora os pés levantes:
– Par de pombos, que a ponta delicada
Dos bicos metem nágua e, doidejantes,
Bebem nos regos cheios da calçada...

Vais, e, apesar do guarda-chuva aberto,
Borrifando-te colmam-te as goteiras
De pérolas o manto mal coberto;

E estrelas mil cravejam-te, fagueiras,
Estrelas falsas, mas que assim de perto,
Rutilam tanto, como as verdadeiras...


Raimundo Correia, Versos e Versões, 1887.
In "Poesias completas". Org. pref. e notas Múcio Leão. 
São Paulo: Ed. Nacional, 1948.

 

Norman Garstin, A Steady Drizzle, Unknown date. Oil on canvas.


"... e eu imagino uma velhinha por trás da vidraça, jogando paciência com esta chuva tão sem pressa..." 


Mário Quintana
, in Poemas para a Infância.
Poesia Completa, RJ: Editora Nova Aguilar, 2005 
 

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