Henri Houben (Belgian painter, 1858-1931), Young Courtship by the Well, s.d.
A casa da infância
Ó magnífico enlevo
que me envolve nesta hora
ao retornar à casa de menino!
Novamente adentrar esse quarto
deita-me neste catre ao meio da tarde
não uma tarde qualquer
mas uma tarde reavida
pelas magias da memória
no que ela tem de mais nostálgico
e seguir no vão da janela
o revoo dos urubus
azuis pela distância
como nos velhos tempos
anteriores à malícia.
A voz cava de meu pai na cozinha
(que silenciou há mais de meio século)
contando histórias pra minha mãe e ela
apenas sorri como quem se ilumina
enquanto a chaleira
exala o cheiro de erva-cidreira
um galo velho arrisca um canto rouco pelo pátio
golpes de um machado moroso ressoam ao longe
em resposta ao ritmo débil
do monjolo nos fundos do quintal
— o pulso do tempo.
Os ventos de maio (de um maio de mil
novecentos e antigamente) resvalam pelas frestas
agitam as palmas das macaúbas
esfregam os troncos de bambu
na touça ao lado como se fosse
o ranger do eixo sem graxa das galáxias
que se movem ao redor de mim.
Meu Deus! Meu Deus!
Meus olhos embaçam
meu coração pulsa descarrilado!
Nesta hora
tudo é perfeição
e dor infinita!
que me envolve nesta hora
ao retornar à casa de menino!
Novamente adentrar esse quarto
deita-me neste catre ao meio da tarde
não uma tarde qualquer
mas uma tarde reavida
pelas magias da memória
no que ela tem de mais nostálgico
e seguir no vão da janela
o revoo dos urubus
azuis pela distância
como nos velhos tempos
anteriores à malícia.
A voz cava de meu pai na cozinha
(que silenciou há mais de meio século)
contando histórias pra minha mãe e ela
apenas sorri como quem se ilumina
enquanto a chaleira
exala o cheiro de erva-cidreira
um galo velho arrisca um canto rouco pelo pátio
golpes de um machado moroso ressoam ao longe
em resposta ao ritmo débil
do monjolo nos fundos do quintal
— o pulso do tempo.
Os ventos de maio (de um maio de mil
novecentos e antigamente) resvalam pelas frestas
agitam as palmas das macaúbas
esfregam os troncos de bambu
na touça ao lado como se fosse
o ranger do eixo sem graxa das galáxias
que se movem ao redor de mim.
Meu Deus! Meu Deus!
Meus olhos embaçam
meu coração pulsa descarrilado!
Nesta hora
tudo é perfeição
e dor infinita!
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