segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

"Vagabundo do mar" - Poema de Manuel da Fonseca


 
Moreira Aguiar (Pintor português, n. 1947), Sol e Chuva - Carcavelos, Cascais, 100x 60cm. 

 

Vagabundo do mar

 
Sou barco de vela e remos
ou vagabundo do mar.
Não tenho escala marcada
nem hora para chegar:
é tudo conforme o vento,
tudo conforme a maré… 
Muitas vezes acontece
largar o rumo tomado
da praia para onde ia…
 Foi o vento que virou?
foi o mar que enraiveceu
e não há porto de abrigo?
ou foi a minha vontade
de vagabundo do mar?
 Sei lá.
 Fosse o que fosse
não tenho rota marcada
ando ao sabor da maré.
 É, por isso, meus amigos,
que a tempestade da Vida
me apanhou no alto mar. 
E agora,
queira ou não queira,
cara alegre e braço forte:
estou no meu posto a lutar!
Se for ao fundo acabou-se.
Estas coisas acontecem
aos vagabundos do mar. 


Manuel da Fonseca,
 in "Rosa dos ventos"

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