Walter Langley (English painter and founder of the Newlyn School of plein air artists,
1852 – 1922), Meditation, ca. 1904.
Alguém
Para alguém sou lírio entre os abrolhos,
E tenho as formas ideais do Cristo;
Para alguém sou vida e a luz dos olhos,
E se a Terra existe, é porque existo.
Esse alguém que prefere ao namorado
Cantar das aves minha rude voz,
Não és tu, anjo meu idolatrado!
Nem, meus amigos, é nenhum de vós!
Quando alta noite me reclino e deito,
Melancólico, triste e fatigado,
Esse alguém abre as asas no meu leito,
E o meu sono desliza perfumado.
Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora
Por mim além dos mares! esse alguém
É de meus dias a esplendente aurora:
És tu, doce velhinha, ó minha mãe!
Gonçalves Crespo, in "Miniaturas", 1870.
Gonçalves Crespo, "Miniaturas" (7ª ed.)
Editora Domingos Barreira
"Miniaturas", volume de poesias de Gonçalves Crespo, em que a temática amorosa e o retrato da figura feminina (vejam-se composições como "Modesta", "Sara", "Alguém" e "Mãe"), com ressonâncias do lirismo ultrarromântico, não escondem uma evolução no sentido do parnasianismo, com notações sóbrias e realistas de ambientes e cenários vazadas num estilo cuidado e depurado.
Composições como "A sesta", "Na roça" ou "Ao meio-dia" evocam os ambientes tropicais brasileiros, bem familiares ao autor. (daqui)
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