domingo, 26 de janeiro de 2025

"O que mais amo" - Poema de Luís Filipe Parrado

 

William Bruce Ellis Ranken (British artist and Edwardian aesthete, 1881-1941),
'The Open Window', These Are My Jewels, 1937.


O que mais amo

 
Não sou capaz de estranhas paixões
e amo, como muitos, o vento forte
que agita a roupa estendida nas cordas,
as bicicletas ferrugentas
de pneus furados
esquecidas em garagens e arrecadações,
a água fresca que mata a sede
ao mais miserável dos homens.
Mas se, como outros, amo os dias de intensa luz
e o descuido dos pássaros no ar,
ninguém ama como eu
as estrias do teu ventre,
a primeira casa de dois filhos.
De todas as coisas prodigiosas que conheço
são elas o que mais se parece
com os rasgos abertos por um arado
na terra crua deste mundo. 


Luís Filipe Parrado
, "Entre a carne e o osso".

 
Luís Filipe Parrado, "Entre a carne e o osso"
Editora Língua Morta, 2012. 


"A poesia é um fogo cuja chama faz arder o espírito de quem ama."
[Pierre de Ronsard, poeta francês, nascido em 1525 e falecido em 1585, foi um dos animadores do grupo literário Pléiade e um dos maiores representantes da poesia francesa do Renascimento, tendo revelado, desde as suas primeiras produções, a influência de poetas como Píndaro Horácio. As suas principais obras são Odes, Les Amours e Sonnets pour Hélène. Ficou conhecido como o príncipe dos poetas. (daqui)]
 
 

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