Vincent van Gogh (Dutch Post-Impressionist painter, 1853–1890), Rain, 1889,
Tarde cinzenta
Tarde cinzenta
névoa.
Intensa
a chuva cai sobre as copas
mas pelo crivo das ramas
asperge o chão devagar.
De onde estou
vejo as gotas que insinuam-se
por folhas secas
raízes
como insetos de cristal.
Me aquieto aos poucos
me amanso
e do silêncio lanço
minha alma
aos líquidos fios que fluem.
Qual finos fusos a levam
lentos
pelos poros do solo
aos fundos
escuros lençóis.
Ali repousa minha alma
longamente adormentada
até que o sono a leva em sonhos
a nascente em meio à mata
e a faz ver acima
no azul
entre copas
a mais doce e fina luz do sol.
E à sombra do verde
em meio a pedras e troncos
em fria senda de areia
clara
minha alma corre em córregos
forma rios
e
serena
chega ao mar.
Visita os recifes
vê arraias
águas-vivas
peixes azuis
hipocampos
e se encanta com as estrelas
da noite das profundezas
a que desce
a sonhar.
Repousa minha alma
longamente
no oceano
até que alguma corrente
a faz emergir como espuma
sobre as ondas
a surfar.
Então
o vento a recolhe
a faz vapor e nuvem
a sopra até as montanhas
onde pura
renovada
cai em chuva sobre as copas
e orvalha o chão devagar
(meu corpo
já o sinto solo
folha tronco galho
areia pedra escolho
porto parte
vento
mar).
Euler C. Cruz, in "Ave Terra", 2000
Tarde cinzenta
névoa.
Intensa
a chuva cai sobre as copas
mas pelo crivo das ramas
asperge o chão devagar.
De onde estou
vejo as gotas que insinuam-se
por folhas secas
raízes
como insetos de cristal.
Me aquieto aos poucos
me amanso
e do silêncio lanço
minha alma
aos líquidos fios que fluem.
Qual finos fusos a levam
lentos
pelos poros do solo
aos fundos
escuros lençóis.
Ali repousa minha alma
longamente adormentada
até que o sono a leva em sonhos
a nascente em meio à mata
e a faz ver acima
no azul
entre copas
a mais doce e fina luz do sol.
E à sombra do verde
em meio a pedras e troncos
em fria senda de areia
clara
minha alma corre em córregos
forma rios
e
serena
chega ao mar.
Visita os recifes
vê arraias
águas-vivas
peixes azuis
hipocampos
e se encanta com as estrelas
da noite das profundezas
a que desce
a sonhar.
Repousa minha alma
longamente
no oceano
até que alguma corrente
a faz emergir como espuma
sobre as ondas
a surfar.
Então
o vento a recolhe
a faz vapor e nuvem
a sopra até as montanhas
onde pura
renovada
cai em chuva sobre as copas
e orvalha o chão devagar
(meu corpo
já o sinto solo
folha tronco galho
areia pedra escolho
porto parte
vento
mar).
Euler C. Cruz, in "Ave Terra", 2000
"Desmineração" de Euler Cruz
Mazza Edições
Mazza Edições
Sinopse
"Desmineração" reúne em um só volume o poema que dá título à obra e a segunda edição de "Ave Terra", originalmente publicado no ano 2000. O conjunto trata de temas relativos à causa ambiental, em poemas que tentam aprofundar, com sensibilidade e argúcia, a reflexão sobre a trajetória de crescente destruição do nosso planeta.
Os impactos negativos da mineração são tomados, na primeira parte da obra, como símbolo e exemplo de todas as atividades humanas que são lesivas à natureza. Assim, o autor toma a “mina como imagem do mundo / que estamos a destruir / mês a mês, noite e dia” e afirma que “é preciso desminerar / nosso planeta, nossa vida / desmineralizar a mente / e o petrificado coração”.
Em tempos de mudanças climáticas, poluição excessiva e mortes provocadas pela busca exclusiva de lucros, a poesia se propõe como um dos caminhos para uma profunda mudança de vida e de atitudes. (daqui)
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