quarta-feira, 28 de maio de 2025

"Eu que não sei pintar um quadro" - Poema de Emily Dickinson


Marie-Gabrielle Capet (French Neoclassical painter, 1761–1818),
The atelier of Madame Vincent (Studio Scene), 1808,
Neue Pinakothek, Munich.


Eu que não sei pintar um quadro


Eu que não sei pintar um quadro
Prefiro - tão somente -
Captar o brilho do impossível
E me quedar - contente -
A imaginar que mão tão rara
E excelsa - evocaria
Uma Aflição tão agradável -
Suntuosa - Agonia -

Não sei falar como uma Flauta -
Queria então somente
Alçar-me fora nas Alturas
E aí - suavemente -
Atravessando Etéreas Vilas
Balão em festa iria
E num só Fio a sustentar-me
A Nave ancoraria -

Como também não sou Poeta -
Melhor será somente
À Aptidão render o Ouvido -
Frágil - dada - carente -
Que tão sublime privilégio
Nem há quem me daria
De desatar com minha Arte
Clarões de Melodia! 


Emily Dickinson, in A branca voz da solidão.
São Paulo: Iluminuras, 2011, p. 219.
Tradução de José Lira
 

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