Aqui louvo os Animais
Súbdito só de quem não reina,
aqui louvo os animais.
Há, entre mim e eles, uma funda
relação de videntes:
as paisagens que fendem
e a minha, sepulta,
perfazem um mesmo habitat.
Desde que os não sondo,
fez-se luz em nosso convívio.
O ar inicial
que ensaiava, icárico,
nas bolas de sabão,
mas não atina com o vácuo
da cidade, vem-me
dos seus pulmões arborescentes.
Alheios à sua pele
na osmose dos textos,
ignoram que nas águas
por correr, desta página,
cruzam, saudando-se,
o «Beagle» e a Arca de Noé.
Sebastião Alba,
in 'O Limite Diáfano'
Sebastião Alba
Sebastião Alba, pseudónimo de Dinis Albano Carneiro Gonçalves (11 de Março de 1940 / 14 de Outubro de 2000, nasceu na freguesia da Cividade, Braga. Filho de Albano Moaz dos Santos Gonçalves, professor primário, e Adelaide Sebastiana Peixoto de Oliveira Carneiro, doméstica, partiu em 1949, com nove anos, para a colónia de Moçambique, passando a viver em Tete com os seus pais e irmãos.
No início da década de 50, após passar no exame de admissão ao Liceu Salazar de Lourenço Marques, frequentou o Colégio Camões e também o Instituto Liceal na Beira. Em finais dos anos 50, a família passou a viver em Quelimane.
Após ter sido incorporado no Contingente Geral em Boane aos 21 anos, desertou no segundo dia. Acabou detido e acusado de extravio de bens militares: cinto e bivaque. Ficou detido por dois anos e meio, sem julgamento e sob tortura, no isolamento. No entanto, ainda se ausentou quatro vezes da Casa de Reclusão. Cumpriu os quinze meses de pena a que foi condenado pelo Tribunal Militar na 23ª Enfermaria do Hospital Miguel Bombarda. Acompanhou sempre o conflito armado entre o Exército Português e a FRELIMO. Tendo manifestado o seu apoio à FRELIMO após a independência, e após frequentar um curso de formação em Inhanbane, foi convidado para assumir o cargo de administrador da província da Zambézia. No entanto, desanimado, acabou por abandonar o cargo passados alguns meses sem sequer pedir demissão.
Acabou por se fixar em Maputo com a família, entrando em contacto com intelectuais e figuras políticas, tais como Marcelino dos Santos, Rui Nogar, Sérgio Vieira, Honwana, etc.
Em Outubro de 1974, Sebastião Alba vê publicado O Ritmo do Presságio, acompanhado de uma nota de apresentação por José Craveirinha, na colecção O Som e o Sentido da Livraria Académica de Lourenço Marques. Em 1981 e 1982 são publicados, respectivamente, O Ritmo do Presságio e A Noite Dividida pelas Edições 70.
A desilusão com a situação política em Moçambique e a preocupação com as filhas fez com que, relutantemente, voltasse a Portugal em 1983.
Após um período atribulado por várias desilusões, (divórcio dos pais, morte da mãe, morte do pai, divórcio da sua esposa) acaba por voltar a Braga, passando a habitar quartos de aluguer. O problema com o álcool e tabaco agravam-se. Toma vida de andarilho, acabando por viver na rua, por escolha própria.
Em 1996, é publicada pela Editora Assírio e Alvim, através da colaboração do poeta Herberto Hélder, A Noite Dividida, que tenta recuperar o conjunto da sua obra poética, embora incompleta.
Na manhã 14 de Outubro de 2000, foi atropelado mortalmente por um condutor que se pôs em fuga, em Braga. A 7 de Outubro, num bilhete quase premonitório ao amigo Vergílio Alberto Vieira escrevia: «Se um dia encontrarem morto "o teu irmão Dinis", o espólio será fácil de verificar: dois sapatos, a roupa do corpo e alguns papéis que a polícia não entenderá.»
A título póstumo, foi publicada em 2000 a antologia Uma Pedra Ao Lado Da Evidência, cujas provas ainda foram revistas por Sebastião Alba.
Obras de Sebastião Alba:
1 - Poesias, Quelimane, Edição do Autor, 1965.
2 - O Ritmo do Presságio, Maputo, Livraria Académica, 1974.
3 - O Ritmo do Presságio, Lisboa, Edições 70, 1981.
4 - A Noite Dividida, Lisboa, Edições 70, 1982.
5 - A Noite Dividida (O Ritmo do Presságio / A Noite Dividida / O Limite Diáfano), Lisboa, Assírio e Alvim, 1996.
6 - Uma Pedra Ao Lado Da Evidência (Antologia: O Ritmo do Presságio / A Noite Dividida / O Limite Diáfano + inédito), Porto, Campo das Letras, 2000.Daqui: Sebastião Alba - Projecto Vercial - Universidade do Minho
Galeria de Joaquín Sorolla y Bastida
Joaquín Sorolla y Bastida, The Gardens at the Sorolla Family House, 1920
"Não há maior dor do que a de nos recordarmos dos dias felizes quando estamos na miséria."
(Dante Alighieri)
Joaquín Sorolla y Bastida, My Family, 1901
"A fama que se adquire no mundo não passa de um sopro de vento, que ora vem de uma parte, ora de outra, e assume um nome diferente segundo a direção de onde sopra."
(Dante Alighieri)
Joaquín Sorolla y Bastida, Clotidle sitting on the sofa, 1910
"A razão vos é dada para discernir o bem do mal."
(Dante Alighieri)
Joaquín Sorolla y Bastida, Clothilde at the Beach, 1904
"Abre a mente ao que eu te revelo e retém bem o que eu te digo, pois não é ciência ouvir sem reter o que se escuta."
(Dante Alighieri)
Dante Alighieri, Afresco na Capela Bargello,
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