segunda-feira, 28 de julho de 2014

"O Relógio" - Poema de Gonçalves Crespo


Giuseppe De Nittis, In the Lamplight, 1880
 


O Relógio


Ebúrneo é o mostrador: as horas são de prata
Lê-se a firma Bruguet por baixo do gracioso
Rendilhado ponteiro; a tampa é enorme e chata:
Nela o esmalte produz um quadro delicioso.

Repara: eis um salão: casquilho malicioso
Das festas cortesãs o mimo, a flor, a nata,
Junto a um cravo sonoro a alegre voz desata.
Uma fidalga o escuta ébria de amor e gozo.

Rasga-se ampla a janela; ao longe o olhar descobre
O correto jardim e o parque extenso e nobre.
As nuvens no alto céu flutuam como espumas,

Da paisagem no fundo, em lago transparente,
Onde se espelha o azul e o laranjal frondente,
Um cisne à luz do sol estende as níveas plumas. 


Gonçalves Crespo, in 'Nocturnos'
 
 

Giuseppe De Nittis, Return from the Races, 1875
 

"O homem que não amou apaixonadamente, ignora a metade mais formosa da existência."

(Stendhal) 
 

Giuseppe De Nittis, The Races at Longchamps from the Grandstand,1883
 

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