Marie Bashkirtseff (Russian painter, 1858-1884), Reading a Book, 1882
Vejo o teu rosto quotidiano
Vejo o teu rosto quotidiano
como se a penumbra
tivesse olhos
ou como se as raízes pudessem ver
através da sombra
Estou no húmus da casa
no húmus do silêncio
e vejo através das vértebras
de uma luz subterrânea
o teu rosto de terra
Há sempre muros e muros
e o nevoeiro dos dias
mas tu és uma chama
sobre a mesa posta
Vem a noite e as serpentes
envolvem as lâmpadas
e reduzem o espaço
Cada um procura
na palma das mãos
os grãos verdes do mar
O monstro vago da noite
desfoca o nosso olhar
e os joelhos vacilam
O teu rosto persiste
como se o teu torso fosse
o tronco de uma árvore
António Ramos Rosa, in "O Teu Rosto"
Pedra Formosa Edições, 1994
Sem comentários:
Enviar um comentário