quinta-feira, 24 de setembro de 2015

"Corre, já entre Serras Escarpadas" - Poema de António Dinis da Cruz e Silva


Bacia hidrográfica do Rio da Prata com a localização do Rio Tietê.



Corre, já entre Serras Escarpadas


Corre, já entre serras escarpadas, 
Já sobre largos campos, murmurando. 
o Tieté, e, as águas engrossando, 
soberbo alaga as margens levantadas. 

Penedos, pontes, árvores copada: 
quanto topa, de cólera escumando, 
com fragor espantoso vai rolando 
nos vórtices das ondas empoladas. 

Mas quando mais caudal, mais orgulhoso, 
as margens rompe, cai precipitado, 
atroando ao redor toda a campina. 

O próprio retrato é dum poderoso, 
pois quanto mais sublime é seu estado 
mais estrondosa é a sua ruína. 


in 'Antologia Poética'





Poeta portuguêsAntónio Dinis da Cruz e Silva  nasceu em 1731, em Lisboa, e faleceu em 1799, no Rio de Janeiro. Oriundo de uma modesta família lisboeta, estudou nos  Oratorianos e licenciou-se em Leis na Universidade de Coimbra. Foi juiz de fora em Castelo de Vide, em 1759, e juiz auditor militar em Elvas, em 1764. Foi depois nomeado desembargador da Relação do Rio de Janeiro, tendo mais tarde regressado a Portugal como juiz da Relação do Porto. Voltou ao Brasil em 1790 para julgar os implicados na revolução de Tiradentes, na qual estava implicado o poeta Tomás António GonzagaCláudio Manuel da Costa e Inácio José de Alvarenga Peixoto.
Poeta do Neoclassicismo foi um dos fundadores da Arcádia Lusitana ou Ulissiponense, em 1756, adotando o pseudónimo de Elpino Nonacriense. Admirador da ideologia pombalina, exaltou literariamente, em 1755, o marquês em Falso Heroísmo.
A sua obra, constituída por géneros diversos, da ode ao drama lírico e à sátira, obedece aos preceitos antibarrocos, imitando os poetas neoclássicos franceses. Na sua poesia notam-se as recordações que a passagem pelo Brasil, enquanto desembargador e juiz da rebelião da Inconfidência Mineira, lhe deixaram. Para além do género dramático, também fez, segundo parece, uns estudos mineralógicos, que integram a sua extensa obra só postumamente publicada na totalidade. 
Na sua escrita, cheia de artificialismo estético, interessou-se pela descrição da realidade e pelas diversas sensações que esta desperta, negando qualquer manifestação lírica pessoal.
Além de poemas vários, escreveu o Hissope, poema heroico-cómico, considerado um dos melhores exemplos do Neoclassicismo português. (Daqui)

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