quarta-feira, 23 de agosto de 2017

"Fim do Dia" - Poema de Luís Filipe Castro Mendes


Olof Arborelius (Swedish, 1842–1915), Landscape in the Southern Alps



Fim do Dia


Aquieta-se o silêncio na folhagem, 
que em árvores teceu amor antigo; 
sobressalto transposto da viagem 
que o dia rumoroso fez consigo. 

O coração, que é sombra na paisagem, 
dá às palavras vãs outro sentido; 
e é murmúrio desfeito na aragem, 
que do entardecer recolhe abrigo. 

Ares assim se fazem de uma luz 
que torna como baço o sol poente; 
e o coração à estrema se reduz, 
como o dia se volve mais ausente. 

Recolhem-se as palavras no vagar 
que dia nem fulgor nos podem dar. 


in "Viagem de Inverno" 


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