Tempo
Num atropelo
foram passando os anos
Simulando vagares de eternidade
a burilar os sonhos
que sonhamos e a acrescentar
saudades à saudade
Num sobressalto
fomos tomando o gosto
Às infiéis constelações
das nossas rimas
no rasto de anjos e paixões
feitas de fulgores e neblinas
Num alvoroço
foi-se ganhando o tempo
Tecendo o poeta verso a verso
o corpo da poesia acalentada
no excesso e no gosto do colher
sedento a seduzir cada palavra
Num tumulto
fomos iludindo o nada
Na partilha astuciosa do prazer
numa grande vontade adivinhada
escrever com a língua portuguesa
dizendo do país poema e asa
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