quarta-feira, 16 de agosto de 2017

"Vida Sempre" - Poema de Casimiro de Brito


Vincent van Gogh, Velho Triste (No Portão da Eternidade), 1890


Vida Sempre


Entre a vida e a morte há apenas 
o simples fenómeno 
de uma subtil transformação. A morte 
não é morte da vida. 
A morte não é inação, inutilidade. 
A morte é apenas a face obscura, 
mínima, em gestação 
de uma viagem que não cessa de ser. Aventura 
prolongada 
desde o porão do tempo. Projetando-se 
nas naves inconcebíveis do futuro. 

A morte não é morte da vida: apenas 
novas formas de vida. Nova 
utilidade. Outro papel a desempenhar 
no palco velocíssimo do mundo. Novo ser-se (comércio 
do pó) e não se pertencer. 
Nova claridade, respiração, naufrágio 
na máquina incomparável do universo. 


in "Solidão Imperfeita"


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