Felix Schlesinger (Germany, 1833-1910), Visiting Grandfather, Date unknown
Na idade própria Na idade própria foste p'rá escolinha
aprender com letra muito redondinha.
Fizeste tricot, parecias rainha,
não sujaste os bibes, sempre arrumadinha.
Saíste da escola, sempre caladinha,
veio um namorado, mas tão seriazinha,
puseste o véu branco, tão bem casadinha!
De manhã à noite, tão asseadinha,
lavas bem os tachos, esfregas a cozinha,
pões as flores de plástico na tua salinha.
Como Deus mandou, cresce a barriguinha,
passam nove meses nasce-te a filhinha.
Fazes mais tricot, lavas mais roupinha.
Passam-se os anos, já és avozinha,
fazes mais tricot p'rá tua netinha.
Teu rosto, menina, não me sai da ideia,
vejo as tuas mãos a tecer a teia
em que, sem saberes, te vão enredar,
as aranhas anhas, do teu tricotar.
Se quiseres ser gente já não é capaz,
a morte na frente, o tédio p'ra trás.
Mas tens de ser gente, tens de ser capaz,
dois pontos à frente, nenhum para trás!
Maria Rosa Colaço
Maria Rosa Colaço
Maria Rosa Colaço foi uma escritora portuguesa nascida em 1935, em Torrão,
Alcácer do Sal, e falecida a 13 de outubro de 2004.
Fez
o curso de enfermagem no Instituto Rockfeller e depois frequentou a
Escola do Magistério de Évora. Aos 20 anos tornou-se professora do
ensino primário, primeiro em
Moçambique (
Nampula,
Beira e Lourenço Marques) e depois, já em
Portugal, em
Almada. Defendeu sempre a importância da leitura no desenvolvimento e educação das crianças.
Estreou-se
na escrita de obras infantis com
Espanta-Pardais e ao longo de mais de
quarenta anos lançou regularmente obras de literatura infanto-juvenil.
A Criança e a Vida, lançado nos
anos 60, foi considerada a sua obra mais importante, embora seja também
de realçar o livro
Aventuras de João-Flor e Joana-Amor. A Criança e a
Vida foi traduzida para diversas línguas e conheceu mais de 40 edições, a
primeira das quais em
Moçambique. Tratava-se de uma coletânea de textos escritos por crianças alunas de Maria Rosa Colaço.
Em 1958 escreveu a sua primeira obra para teatro
A Outra Margem, que lhe valeu o Prémio Revelação de Teatro.
Dez anos mais tarde, regressou a
Portugal, depois de ter feito alguns livros para o Ministério da Educação moçambicano com textos de crianças locais.
Em
1982 Maria Rosa Colaço ganhou o Prémio Soeiro Pereira Gomes, graças à
edição do livro
Gaivota. Sete anos mais tarde venceu o Prémio Alice
Gomes da Associação Portuguesa para a Educação pela Arte pela obra
Pássaro Branco.
Paralelamente à carreira de escritora, Maria Rosa
Colaço colaborou com vários jornais, tendo escrito crónicas sobre o
quotidiano durante vinte anos para o diário de Lisboa
A Capital. Para
além deste diário, escreveu em jornais como
Planície de Moura,
Diário do
Alentejo,
Diário do Sul,
Diário de Notícias e
Odemirense.
Elaborou ainda diversos textos para catálogos de exposições de artistas plásticos como Albino Moura,
Roberto Chichorro e Louro Artur e do fotógrafo
Eduardo Gageiro.
Maria Rosa Colaço foi sepultada na sua terra natal, Torrão, onde existe uma rua com o seu nome.
(daqui)