quinta-feira, 20 de abril de 2023

"Soneto da Poesia Narrativa" - Poema de Vasco Graça Moura


Heinrich Campendonk (German, 1889–1957), Composition with 2 Figures, c. 1912


 Soneto da Poesia Narrativa


foi assim que cheguei à poesia narrativa:
nos poemas moviam-se figuras
e a essas figuras aconteciam coisas
e essas coisas tinham um sentido deslizante,
era uma espécie de hipálage do mundo:

com precisão a seta era dirigida
à maça equilibrada na cabeça da criança,
mas devolvia-se ao arco, depois
de varar o coração dos circunstantes
e era a vibração do arco a derrubar o fruto,

num zunido do ar que a flecha deslocava
na sua trajectória. foi assim que cheguei
à poesia narrativa: havia flores nos alpes
e a corda em vibração levava à música.

Vasco Graça Moura, Poemas com Pessoas
Lisboa: Quetzal Editores
 
 
Heinrich Campendonk, 20 Minuten vor 1 Uhr (20 minutes to 1 o'clock), 1922 
 


SEM ESTAÇÃO

月花もなくて酒のむ独りかな
tsuki hana mo / nakute sake nomu / hitori kana

(1689)

Que lua, que flor
nada, bebo umas doses
aqui sozinho.



Matsuo Bashō
,
in FRADE, Gustavo. Dez poemas de Matsuo Bashô.
Em Tese, Belo Horizonte, v. 20 n. 2 maio-ago. 2014, p. 137-146.
(aqui)
(Tradução Gustavo Frade) 
 

Heinrich Campendonk, 1916


Heinrich Campendonk (Krefeld, 3 de novembro de 1889—Amesterdão, 9 de maio de 1957) foi um pintor, gravador e vitralista alemão enquadrado no expressionismo, membro entre 1911 e 1912 do movimento artístico Der Blaue Reiter em Munique.
Quando o regime nazista chegou ao poder em 1933 foi um de artistas modernistas considerados como artistas degenerados a quem foi proibido expor. Mudou-se então para os Países Baixos onde passou o resto da sua vida trabalhando na Rijksakademie de Amesterdão, primeiro como professor de Arte Decorativa, depois de gravura e de pintura de vitrais e, finalmente, como diretor da Academia. Nunca regressou à Alemanha.
Entre os seus discípulos contam-se Willem Hofhuizen (1915–1986), Jaap Min (1914–1987) e Anton Rovers (1921-2003). (Daqui)
 

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