Sergei Tyukanov, Moon
A Casa do Mundo
Aquilo que às vezes parece
um sinal no rosto
é a casa do mundo
é um armário poderoso
com tecidos sanguíneos guardados
e a sua tribo de portas sensíveis.
Cheira a teias eróticas. Arca delirante
arca sobre o cheiro a mar de amar.
Mar fresco. Muros romanos. Toda a música.
O corredor lembra uma corda suspensa entre
os Pirinéus, as janelas entre faces gregas.
Janelas que cheiram ao ar de fora
à núpcia do ar com a casa ardente.
Luzindo cheguei à porta.
Interrompo os objetos de família, atiro-lhes
a porta.
Acendo os interruptores, acendo a interrupção,
as novas paisagens têm cabeça, a luz
é uma pintura clara, mais claramente lembro:
uma porta, um armário, aquela casa.
Um espelho verde de face oval
é que parece uma lata de conservas dilatada
com um tubarão a revirar-se no estômago
no fígado, nos rins, nos tecidos sanguíneos.
É a casa do mundo:
desaparece em seguida.
Luiza Neto Jorge, O seu a seu tempo
Luiza Neto Jorge
Luiza Neto Jorge
Poetisa portuguesa nascida a 10 de maio de 1939, em Lisboa, e falecida a 23 de fevereiro de 1989, na mesma cidade. Frequentou o curso de Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa e viveu em Paris, entre 1962 e 1970.
Autora de guiões cinematográficos e de adaptações teatrais, Luiza Neto Jorge desenvolveu a atividade de tradutora, tendo traduzido, entre muitos outros autores, Apollinaire, Aragon, Artaud, Céline, Éluard, Genet, Ionesco, Michaux, Raimond Queneau, Jarry, Nerval, Boris Vian, Yourcenard. Integrou o grupo que se reuniu em torno do projeto Poesia 61, antologia poética, organizada em fascículos, que reúne textos de Casimiro de Brito, Fiama Hasse Pais Brandão, Gastão Cruz e Maria Teresa Horta, e onde publicou Quarta Dimensão.
Embora a sua poesia se aproxime dos textos poéticos aí recolhidos no que espelham de uma tendência poética que, durante a década de 60, dá privilégio à palavra, à linguagem na sua opacidade, na busca de uma expressão depurada e não discursiva, ao cuidado posto na construção do poema, Luiza Neto Jorge diferencia-se quer pela importância que o legado surrealista tem na sua escrita, quer pela capacidade de diálogo com a tradição lírica.
A sua obra poética distingue-se, num cerrado rigor construtivo, pela contenção emotiva e pelo despojamento de tudo o que é redundante face à contundência da palavra exata, numa capacidade de fusão entre poesia discursiva e poesia imagética, de transmitir a rutura com o senso comum numa expressão lapidar, onde as palavras são, "em si mesmas, pura dinamite, uma permanente vertigem, uma constante transgressão." (cf. CRUZ, Gastão, A Poesia Portuguesa Hoje, 1999, pp.153-163).
Luiza Neto Jorge. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-02-09].
Galeria de Sergei Tyukanov
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Sergei Tyukanov
Sergei Tyukanov nasceu a 17 maio de 1955, numa ilha do Pacífico, situada na pequena cidade russa de Poronaisk. Como vivia isolado, os livros de ilustração infantil foram grandes companheiros durante a infância do pequeno Sergey.
Seus sketches, pinturas e desenhos imaginam mundos super-habitados por personagens da cultura russa, que se mesclam a outras referências, a exemplo das histórias em quadrinhos e para crianças, do surrealismo e de artistas como Bosch.
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