terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

"A um crucifixo" - Poema de Antero de Quental


Carlo Carrà (Italian painter, 1881–1966), Futurism, Metaphysical art



A um crucifixo


Não se perdeu teu sangue generoso,
Nem padeceste em vão, quem quer que foste,
Plebeu antigo, que amarrado ao poste
Morreste como vil e faccioso.

Desse sangue maldito e ignominioso
Surgiu armada uma invencível hoste...
Paz aos homens e guerra aos deuses! - pôs-te
Em vão sobre um altar o vulgo ocioso...

Do pobre que protesta foste a imagem:
Um povo em ti começa, um homem novo:
De ti data essa trágica linhagem.

Por isso nós, a Plebe, ao pensar nisto,
Lembraremos, herdeiros desse povo,
Que entre nossos avós se conta Cristo. 
 
 
in 'Os sonetos completos de Anthero de Quental', 
publicados por J. P. Oliveira Martins. - [1ª ed.],
 Porto : Livraria Portuense de Lopes, 1886
 


Galeria de Carlo Carrà (3)

Carlo Carrà


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