Poema do Futuro
Conscientemente escrevo e, consciente,
medito o meu destino.
No declive do tempo os anos correm,
deslizam como a água, até que um dia
um possível leitor pega num livro
e lê,
lê displicentemente,
por mero acaso, sem saber porquê.
Lê, e sorri.
Sorri da construção do verso que destoa
no seu diferente ouvido;
sorri dos termos que o poeta usou
onde os fungos do tempo deixaram cheiro a mofo;
e sorri, quase ri, do íntimo sentido,
do latejar antigo
daquele corpo imóvel, exumado
da vala do poema.
Na História Natural dos sentimentos
tudo se transformou.
O amor tem outras falas,
a dor outras arestas,
a esperança outros disfarces,
a raiva outros esgares.
Estendido sobre a página, exposto e descoberto,
exemplar curioso de um mundo ultrapassado,
é tudo quanto fica,
é tudo quanto resta
de um ser que entre outros seres
vagueou sobre a Terra.
in 'Poemas Póstumos'
[Rómulo de Carvalho (pseudónimo António Gedeão),
Poeta/Professor/Pedagogo/Investigador (1906-1997)]
Martin Johnson Heade, Apple Blossoms and a Hummingbird, 1875
Martin Johnson Heade, Amethyst Hummingbirds
Martin Johnson Heade, Cherokee Roses on a Light Gray Cloth
Martin Johnson Heade, A Vase of Corn Lilies and Heliotrope
Martin Johnson Heade, Two Cherokee Rose Blossoms on a Table
Martin Johnson Heade, Orchid and Hummingbird near a Mountain Waterfall
Martin Johnson Heade, Passion Flowers and Hummingbirds
Poeta/Professor/Pedagogo/Investigador (1906-1997)]
Martin Johnson Heade, Apple Blossoms and a Hummingbird, 1875
Martin Johnson Heade, Amethyst Hummingbirds
Martin Johnson Heade, Cherokee Roses on a Light Gray Cloth
Martin Johnson Heade, A Vase of Corn Lilies and Heliotrope
Martin Johnson Heade, Two Cherokee Rose Blossoms on a Table
Martin Johnson Heade, Orchid and Hummingbird near a Mountain Waterfall
Martin Johnson Heade, Passion Flowers and Hummingbirds
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