domingo, 21 de junho de 2015

"As Rosas" - Poema de Machado de Assis


Peder Severin Krøyer, Roses, 1893 (Marie Krøyer seated in the deckchair in the garden
 by Mrs Bendsen's house.)


As Rosas


Rosas que desabrochais, 
Como os primeiros amores, 
Aos suaves resplendores 
Matinais; 

Em vão ostentais, em vão, 
A vossa graça suprema; 
De pouco vale; é o diadema 
Da ilusão. 

Em vão encheis de aroma o ar da tarde; 
Em vão abris o seio húmido e fresco 
Do sol nascente aos beijos amorosos; 
Em vão ornais a fronte à meiga virgem; 
Em vão, como penhor de puro afeto, 
Como um elo das almas, 
Passais do seio amante ao seio amante; 
Lá bate a hora infausta 
Em que é força morrer; as folhas lindas 
Perdem o viço da manhã primeira, 
As graças e o perfume. 
Rosas que sois então? – Restos perdidos, 
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha 
Brisa do inverno ou mão indiferente. 

Tal é o vosso destino, 
Ó filhas da natureza; 
Em que vos pese à beleza, 
Pereceis; 
Mas, não... Se a mão de um poeta 
Vos cultiva agora, ó rosas, 
Mais vivas, mais jubilosas, 
Floresceis. 


Machado de Assis, in 'Crisálidas'


Marie Krøyer, Self-portrait, 1889


"O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado."

in"Quincas Borba" (1891), capítulo XXXII


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