quarta-feira, 10 de junho de 2015

"Ciclo" - Poema de João Cabral do Nascimento


Michael Ancher (Danish realist artist, 1849 -1927), A Baptism, 1883/1888,
 

Ciclo


Trombetas de caça,
Frescor de alvorada.
Ó cheia de graça,
Manhã transparente!
A sombra esvoaça,
A tarde já vem
E à noite se enlaça...
Meu Deus! -
Um dia que passa.

A terra nos brinda
Com folhas e flores.
Tão fresca! Tão linda!
Seu canto desmaia
Numa paz infinda;
Promessas embala
De frutos ainda...
Meu Deus! -
Um ano que finda.

Fui filho, sou pai,
Avô algum dia.
Das nuvens se esvai
Em gotas, a chuva
Tão límpida! Olhai:
Sob a luz do Inverno
Em silêncio cai.
Meu Deus! -
O tempo lá vai...
 





Poesia

"Impossível qualquer explicação: ou a gente aceita à primeira vista, ou não aceitará nunca: a poesia é o mistério evidente. Ela é óbvia, mas não é chata como um axioma. E, embora evidente, traz sempre um imprevisível, uma surpresa, um descobrimento."

Mário Quintana, Porta Giratória

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