segunda-feira, 31 de agosto de 2015

"Soneto a Vermeer" - Poema de Alberto da Costa e Silva



Johannes Vermeer also known as Jan Vermeer (Dutch painter, 1632–1675),
The Lacemaker, c. 1669/1670, Louvre Museum.



Soneto a Vermeer

 
De luto, a minha avó costura à máquina,
e gira um cata-vento em plena sala.
Vejo seu rosto, sombra que a janela
corrompe contra um pátio amarelado

de sol e de mosaicos. Sobre a mesa,
a tesoura, um esquadro, alguns retalhos
e a imóvel solidão. A minha avó,
com seus olhos azuis, o tempo acalma.

A minha avó é jovem, mansa e apenas
a limpidez de tudo. Sonho vê-la
no seu vestido negro, a gola branca,
contra o corpo de cão, negro, da máquina:

a roda, de perfil, parece imóvel
e a vida não se exila na beleza.


in 'A Roupa no Estendal, o Muro, as Pombas'


Johannes Vermeer, Woman with a balance, 1665


"Quem escrever a respeito de mulheres, deve molhar a pena nas cores do arco-íris e secar-lhe a tinta
 com a poeira dourada das borboletas."


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