sexta-feira, 14 de agosto de 2015

"Até Amanhã" - Poema de Eugénio de Andrade


Elizabeth Adela Forbes, On a Fine Day, 1903, oil on canvas, Guildhall Art Gallery
 


Até Amanhã


Sei agora como nasceu a alegria, 
como nasce o vento entre barcos de papel, 
como nasce a água ou o amor 
quando a juventude não é uma lágrima. 

É primeiro só um rumor de espuma 
à roda do corpo que desperta, 
sílaba espessa, beijo acumulado, 
amanhecer de pássaros no sangue. 

É subitamente um grito, 
um grito apertado nos dentes, 
galope de cavalos num horizonte 
onde o mar é diurno e sem palavras. 

Falei de tudo quanto amei. 
De coisas que te dou 
para que tu as ames comigo: 
a juventude, o vento e as areias. 


Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"



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