sábado, 16 de maio de 2020

"Lisboa" - Poemas de Eugénio de Andrade e Sophia de Mello Breyner Andresen


Alfredo Roque Gameiro, Lisboa velha (aguarela)



Lisboa 


Alguém diz com lentidão:
“Lisboa, sabes…”
Eu sei. É uma rapariga
descalça e leve,
um vento súbito e claro
nos cabelos,
algumas rugas finas
a espreitar-lhe os olhos,
a solidão aberta
nos lábios e nos dedos,
descendo degraus
e degraus
e degraus até ao rio.
Eu sei. E tu, sabias? 
 in Até Amanhã, 1956



 
Alfredo Roque Gameiro, Casa no Largo do Menino Deus - Lisboa Velha, nº 71



Tejo 


Aqui e além em Lisboa – quando vamos
Com pressa ou distraídos pelas ruas
Ao virar da esquina de súbito avistamos
Irisado o Tejo:
Então se tornam
Leve o nosso corpo e a alma alada 
 in Obra Poética, 2011 



Alfredo Roque Gameiro, Barcos e figuras junto à margem do Rio Tejo, 1913



Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.


Álvaro de Campos
,
Heterónimo de Fernando Pessoa,
Excerto do poema «Lisbon Revisited (1923)
 
 

Sem comentários: