segunda-feira, 11 de maio de 2020

"Modo velho de acordar" - Poema de Lucinda Nogueira Persona


Jeremy Mann (American, b.1979), The Forgotten (version two - Neglect)


Modo velho de acordar



De repente
num modo velho de acordar
abro a úmida casca noturna.
Sou folha? Inseto? Passarinho ou gente?
Que dia é hoje? Que horas são?
Onde está o homem que dorme comigo?

No meio das suposições
minhas pálpebras amarfanhadas
são peso e desproporção,
minhas córneas não entendem.
Dói, na penumbra, o reajuste dos meus ossos.
Dói a bexiga que tem rígido horário.
Dói o cotidiano no meu caminho. 
 em "Ser cotidiano". 
Rio de Janeiro: 7Letras, 1998. 


Jeremy Mann, The Forgotten (version one - Abandon)

"Duas coisas são esteticamente perfeitas no mundo: relógios e gatos."

(Émile-Auguste Chartie)


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