Vincent van Gogh, Olive Trees with yellow sky and sun, 1889
A uma oliveira
Velha oliveira, ó irmã do tempo e do silêncio,
algo de ti se me tornou hoje perceptível;
algo que eu não conhecia e me fez parar
na ténue sombra que teces no caminho;
algo que é uma doce corola de contacto.
Já os passos da luz se afastam na colina
e um rumor de pérolas quebradas
desce, lentamente desce por toda a serrania.
Já as aves tuas amigas procuram na folhagem
a doçura acumulada nos favos da noite.
E também já são horas
de nós os homens, nós os que passamos,
suspendermos as cítaras do pensamento.
Entretanto, ó canção do crepúsculo, velha oliveira,
eu paro sob os longos cílios da tua ramagem.
Paro e, ao sentir nas mãos o teu enrugado tronco,
e, nos olhos, a serenidade das tuas folhas,
começo a entender uma bela mensagem:
a paz, ah a paz!, a rosa da paz.
É como se uma gota de azeite descesse,
Brandamente descesse pelas coisas.
António Cabral,
A uma oliveira
Velha oliveira, ó irmã do tempo e do silêncio,
algo de ti se me tornou hoje perceptível;
algo que eu não conhecia e me fez parar
na ténue sombra que teces no caminho;
algo que é uma doce corola de contacto.
Já os passos da luz se afastam na colina
e um rumor de pérolas quebradas
desce, lentamente desce por toda a serrania.
Já as aves tuas amigas procuram na folhagem
a doçura acumulada nos favos da noite.
E também já são horas
de nós os homens, nós os que passamos,
suspendermos as cítaras do pensamento.
Entretanto, ó canção do crepúsculo, velha oliveira,
eu paro sob os longos cílios da tua ramagem.
Paro e, ao sentir nas mãos o teu enrugado tronco,
e, nos olhos, a serenidade das tuas folhas,
começo a entender uma bela mensagem:
a paz, ah a paz!, a rosa da paz.
É como se uma gota de azeite descesse,
Brandamente descesse pelas coisas.
António Cabral,
António Cabral (1931 - 2007)
António Cabral, poeta e dramaturgo, nascido em 1931, em Castelo do Douro, Alijó, desempenhou funções de docente. Tendo encetado a sua carreira literária no domínio de uma poesia que se ressente da implantação transmontana, a sua produção literária ganhou relevo sobretudo no domínio do teatro com peças que, beneficiando de um esforço de descentralização da atividade dramática, se centram sobre temáticas sociais. (Daqui)
Vincent van Gogh, Olive grove, 1889, Kröller-Müller Museum
"E com um ramo de oliveira o homem se purifica totalmente."
Olive Trees (Van Gogh series), Museum of Modern Art, New York
Árvore
(mitologia)
Alimento,
habitação, ferramentas, abrigo, pulmão vivo e uma grande beleza são
algumas das características das árvores. Simbolizam o cosmos em toda a
sua extensão, já que as suas raízes são o nível subterrâneo, o tronco é a
terra e os seus ramos simbolizam o céu. São sinónimo de evolução e de
regeneração cíclica ao longo das estações, frutificando a terra com as
suas sementes.
Têm em si os quatro elementos: a terra junto às raízes, a água na sua seiva, o ar respirado pelas suas folhas e o fogo através da sua madeira. Dado encontrar-se simultaneamente em contacto com a terra e o céu, a árvore é também um símbolo da relação entre estes dois elementos e uma espécie de centro ou eixo do mundo. E isto tanto na tradição judaico-cristã, como nas culturas africanas ou asiáticas. Em certas regiões do Norte da Índia, aquele que abate uma árvore é condenado à morte, porque a vida de uma árvore tem mais valor do que a vida humana.
Certos tipos particulares de árvores são preferidos por certas culturas: é o caso do carvalho entre os celtas, o abeto junto dos gregos, a tília para os germânicos, o freixo pelos nórdicos, a oliveira para os islâmicos e os cristãos, ou o cedro entre os hebreus e os assírios.
As árvores do mundo e as árvores da vida também fazem parte de muitas tradições do Mundo, inclusive do Japão e no Irão. A árvore é importante na simbologia bíblica do paraíso como a árvore da sabedoria e do conhecimento. A árvore da vida está representada na tradição cristã pela árvore do Génesis e a cruz onde Cristo se torna o centro do Mundo. Foi debaixo de uma árvore que Buda alcançou a iluminação e essa árvore representa por vezes o próprio Buda, dizendo-se na Índia que é uma manifestação da trindade: as suas raízes são Brama, o seu tronco Shiva e os seus ramos Vixnu.
Em algumas culturas a árvore é também um símbolo de fertilidade, o que faz com que as mulheres a ela recorram, pintando-a nos seus corpos, como acontece em certas tribos da Ásia, ou então, como é hábito no Mediterrâneo e na Índia, prendendo nas árvores os seus lenços vermelhos.
No Sul da Índia, entre os dravidianos, as mulheres têm o costume de se unir a uma árvore antes de casar com o marido, para garantir a vinda dos filhos. Nesta mesma parte do Mundo, marido e mulher plantam uma árvore fêmea e uma árvore macho, cujas raízes são entrelaçadas para garantir a fecundidade das árvores e do casal que as plantou.
Noutras culturas é o noivo que é amarrado à árvore no dia do seu casamento, simbolizando a força e capacidade de procriação.
A 21 de março, comemora-se o Dia Mundial da Árvore e das Florestas. (Daqui)
Têm em si os quatro elementos: a terra junto às raízes, a água na sua seiva, o ar respirado pelas suas folhas e o fogo através da sua madeira. Dado encontrar-se simultaneamente em contacto com a terra e o céu, a árvore é também um símbolo da relação entre estes dois elementos e uma espécie de centro ou eixo do mundo. E isto tanto na tradição judaico-cristã, como nas culturas africanas ou asiáticas. Em certas regiões do Norte da Índia, aquele que abate uma árvore é condenado à morte, porque a vida de uma árvore tem mais valor do que a vida humana.
Certos tipos particulares de árvores são preferidos por certas culturas: é o caso do carvalho entre os celtas, o abeto junto dos gregos, a tília para os germânicos, o freixo pelos nórdicos, a oliveira para os islâmicos e os cristãos, ou o cedro entre os hebreus e os assírios.
As árvores do mundo e as árvores da vida também fazem parte de muitas tradições do Mundo, inclusive do Japão e no Irão. A árvore é importante na simbologia bíblica do paraíso como a árvore da sabedoria e do conhecimento. A árvore da vida está representada na tradição cristã pela árvore do Génesis e a cruz onde Cristo se torna o centro do Mundo. Foi debaixo de uma árvore que Buda alcançou a iluminação e essa árvore representa por vezes o próprio Buda, dizendo-se na Índia que é uma manifestação da trindade: as suas raízes são Brama, o seu tronco Shiva e os seus ramos Vixnu.
Em algumas culturas a árvore é também um símbolo de fertilidade, o que faz com que as mulheres a ela recorram, pintando-a nos seus corpos, como acontece em certas tribos da Ásia, ou então, como é hábito no Mediterrâneo e na Índia, prendendo nas árvores os seus lenços vermelhos.
No Sul da Índia, entre os dravidianos, as mulheres têm o costume de se unir a uma árvore antes de casar com o marido, para garantir a vinda dos filhos. Nesta mesma parte do Mundo, marido e mulher plantam uma árvore fêmea e uma árvore macho, cujas raízes são entrelaçadas para garantir a fecundidade das árvores e do casal que as plantou.
Noutras culturas é o noivo que é amarrado à árvore no dia do seu casamento, simbolizando a força e capacidade de procriação.
A 21 de março, comemora-se o Dia Mundial da Árvore e das Florestas. (Daqui)
Vincent van Gogh, Couple Walking among Olive Trees in a Mountainous Landscape
with Crescent Moon, May-1890, Museu de Arte de São Paulo, São Paulo, Brasil
Ode ao Azeite
A oliveira
De volume prateado,
Severa e suas linhas,
Em seu torcido coração terrestre:
As graciosas azeitonas
Polidas pelos dedos que fizeram
A pomba e o caracol marinho:
Verdes, inumeráveis,
Puríssimos mamilos da natureza,
E ali nos secos olivais
De onde tão somente o céu azul com cigarras,
E terra dura existem,
Ali o prodígio,
A cápsula perfeita da oliva
Preenchendo com suas constelações as folhagens,
Mais tarde as vasilhas, o milagre,
O Azeite.
A oliveira
De volume prateado,
Severa e suas linhas,
Em seu torcido coração terrestre:
As graciosas azeitonas
Polidas pelos dedos que fizeram
A pomba e o caracol marinho:
Verdes, inumeráveis,
Puríssimos mamilos da natureza,
E ali nos secos olivais
De onde tão somente o céu azul com cigarras,
E terra dura existem,
Ali o prodígio,
A cápsula perfeita da oliva
Preenchendo com suas constelações as folhagens,
Mais tarde as vasilhas, o milagre,
O Azeite.
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