quinta-feira, 14 de julho de 2022

"Legado" - Poema de Lindolf Bell

 
Gregorio Prieto (1897-1992), Retrato de Juan Chabás (1900-1954), 1922-1924,  
84.5 x 84.6 cm. Óleo sobre lienzo. Museo Gregorio Prieto
 
 

Legado

 
Deixarei por herança
não o poema
mas o corpo do poema
aberto aos quatro ventos

Pois todo poema
é verde e maduro,
em areia movediça
de angústia, solidão
onde me debato
ainda que finja o contrário
em busca da verdade
e seu chão

Deixarei por herança
não o poema
mas o corpo repartido
na viagem inconclusa

Pois todo poema maduro
é um verde poema
e, mesmo acabado,
se estriba na inconclusão
claro, sem esquecer,
a estratagema da paixão.

 
em "As Vivências Elementares"
 São Paulo: Massao Ohno / Roswitha Kempf, 1980.
 
 
Retrato de Lindolf Bell aos 27 anos, em 1965 (Daqui)


"A poesia é o instrumento mais generoso para eliminar a solidão, a indiferença, o desencanto, o cinismo e a discriminação. A solidão vale como espaço para refletir em profundidade sobre nosso destino comum e a ausência de solidariedade que desequilibra o sistema social, acentua privilégios e exclusões. Se o poema, muitas vezes, amadurece sem terras, em solidão, sua existência (resistência) se justifica para lembrar que o ser humano mais uma vez não é ilha, mas partilha." - Lindolf Bell (Daqui)


Gregorio Prieto (1897-1992), Homenaje a Gómez de la Serna (1888​-1963)
 

Ramón Goméz de la Serna


Ramón Goméz de la Serna, ou simplesmente Ramón, como toda a Europa e América Latina artísticas o conheceram nos anos 20 ou 30, nasceu em Madrid em 1888. Aos vinte anos dirige uma revista literária ('Prometeo') que durou até 1912. Interessado por tudo o que é moderno, funda, em 1915, na Calle de Carretas, não muito longe da Puerta del Sol, a tertúlia do 'Café del Pombo' por onde irá passar toda a 'Intelligentsia' espanhola, e não só, atraída pela sua fama de grande mestre do humor e da vanguarda. Tentou criar em Madrid um ambiente cosmopolita e verdadeiramente moderno. 
Viajou muito - viveu em Paris, Nápoles, Genebra, construiu uma moradia no Estoril onde passou largas temporadas, mas é sobretudo Madrid que palpita na sua obra. Obra imensa - de todos os géneros que existiam e que não existiam: romances ('La Viuda Blanca y Negra', 'La Quinta de Palmyra', 'Seis Falsas Novelas', 'La Nardo', 'La Mujer de Ambar'), crónicas ('El Rastro', 'Toda la História de Puerta del Sol', 'La Proclama del Pombo'&), biografias ('Lope Viviente', 'Ramón del Valle Inclán', 'Goya', 'Oscar Wilde', 'Velasquez'&), ensaios ('El Circo', 'Senos'&), autobiografia ('El Libro Mudo', 'Secretos', 'Automoribundia'&) numa lista de duzentos títulos. 
Foi traduzido por toda a Europa. Com Chaplin e Pitigrilli, foi o único estrangeiro admitido na Academia de Humor Francesa. E Valéry Larbaud, que poucas vezes se enganou, dele disse 'Com Proust e Joyce é um dos maiores escritores do século XX'
Em 1936, com o deflagrar da Guerra Civil, parte para Buenos Aires onde conhecera Luisa Sofovitch que o acompanhou até à morte em 1963."

Jorge Silva Melo
(1948- 2022) no prefácio à obra "Greguerías" (Daqui) 
 

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