quinta-feira, 21 de julho de 2022

"Solidão" - Poema de Rainer Maria Rilke


Edward Hopper (American realist painter, 1882-1967), Nighthawks, 1942, óleo sobre tela, 84.1×152.4
Art Institute of Chicago, Chicago (Illinois)
 


Solidão


A solidão é como a chuva que brota
do mar para o cair da tarde;
da planície distante e remota
para o céu, que sempre a adota.
E só então recai do céu sobre a cidade.

Ela chove, entre as horas, a seu despeito,
quando todos os becos buscam a madrugada
e quando os corpos, que não encontraram nada,
quedam-se juntos, tristes e frios,
e os que se odeiam, rosto contrafeito,
têm de dormir no mesmo leito:

aí a solidão flui como os rios...


 In: Augusto de Campos (trad. e org.). Coisas e anjos de Rilke
São Paulo: Perspectiva, 2013.
 
 

Augusto de Campos, Coisas e anjos de Rilke
Editora Perspectiva

Nesta nova edição, Augusto de Campos ampliou para 130 os poemas traduzidos, tendo acrescentado setenta textos aos anteriores, sempre com ênfase nos "Novos Poemas" (1907-1908), a obra menos conhecida de Rainer Maria Rilke. Incluiu mais alguns poemas do Livro de Imagens, e ainda outros, dos Sonetos a Orfeu, que têm a ver com a dicção poética daquelas coleções. Aditou-lhes, por fim, outros poemas esparsos pouco divulgados. Este volume vem aprofundar uma nova abordagem da obra de Rilke, a partir da fase marcada pela influência de Cézanne e Rodin. Nas notáveis transposições do mestre-tradutor, os "poemas-coisa" rilkeanos nos revelam uma "poesia de pedra e alma onde até os anjos se concretizam. Textos que nos maravilham e nos surpreendem na solidez coiseante das imagens em que compactam a fluidez das angústias e incertezas humana. Amálgama de coisas e anjos". (Daqui)
 

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