segunda-feira, 15 de maio de 2023

"Atriz" - Poema de Carlos Drummond de Andrade


Louise Abbéma (French painter, sculptor and designer of the Belle Époque, 1853–1927), 
 La dame avec les fleurs, 1883, Oil on canvas, 97.8 x 130.3 cm
 

 
Atriz
 
 
 A morte emendou a gramática.
Morreram Cacilda Becker.
Não era uma só. Era tantas.
Professorinha pobre de Pirassununga
Cleópatra e Antígona
Maria Stuart
Mary Tyrone
Marta, de Albee
Margarida Gauthier e Alma Winemiller
Hannah Jelkes a solteirona
a velha senhora Clara Zahanassian
adorável Júlia
outras muitas, modernas e futuras
irreveladas.
Era também um garoto descarinhado e astuto: Pinga-Fogo
e um mendigo esperando infinitamente Godot.
Era principalmente a voz de martelo sensível
martelando e doendo e descascando
a casca podre da vida
para mostrar o miolo de sombra
a verdade de cada um nos mitos cénicos.
Era uma pessoa e era um teatro.
Morrem mil Cacildas em Cacilda.
 
 
 
Cacilda Becker no Rio, em 1941, primeiro ano da carreira. (daqui)
 

Cacilda Becker Yáconis  (Pirassununga, 6 de abril de 1921 – São Paulo, 14 de junho de 1969) foi uma atriz brasileira.
 
Protagonista de vários espetáculos do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e fundadora da companhia que leva seu nome, Cacilda Becker interpreta personagens antagónicos, transitando da farsa à tragédia, do clássico ao moderno. Estende seu papel para a atuação política, enfrentando a censura contra a classe artística do Brasil.

Ainda menina, estuda dança e trabalha para manter a casa. Aos 20 anos, no início da década de 1940, atua no Teatro do Estudante do Brasil (TEB), em 3.200 Metros de Altitude, do dramaturgo francês Julien Luchaire (1876-1962), e em Dias Felizes, do também francês Claude-André Puget (1905-1975). No mesmo ano, une-se à Companhia de Comédias Íntimas, do ator e diretor Raul Roulien (1905-2000), participando de uma série de espetáculos, como Trio em Lá Menor, do dramaturgo Raimundo Magalhães Júnior (1907-1981).

Ingressa no Grupo Universitário de Teatro (GUT) em 1943, e, no ano seguinte, compõe a Companhia de Comédias de Bibi Ferreira (1922-2019). Em 1945, volta ao GUT, onde atua em Farsa de Inês Pereira e do Escudeiro, do dramaturgo português Gil Vicente (1465-1536). Colabora ainda com a companhia Os Comediantes, e transita entre diferentes companhias enquanto exerce outras funções ligadas à interpretação e à escrita na Rádio Tupi e na Rádio América, durante grande parte da década de 1940.

Em 1947, muda-se para o Rio de Janeiro para atuar no filme Luz dos Meus Olhos, dirigido por José Carlos Burle (1910-1983) e filmado pelos estúdios da companhia Atlântida. Nessa produção, Cacilda repete sua forma de atuação do teatro, proporcionando uma interpretação suave e natural a sua personagem Suzana. Volta a São Paulo depois de sua estreia cinematográfica, e, em 1948, é a primeira profissional contratada do TBC, onde permanece até 1955, estando presente em quase todas as montagens do período.

Sua primeira consagração acontece no Teatro das Segundas-Feiras. A peça Pega Fogo (1950), do escritor francês Jules Renard (1864-1910), inicialmente formando um programa triplo ao lado de outros dois textos, torna-se um grande sucesso. Sua interpretação do personagem Poil de Carotte lhe vale uma boa crítica do francês Michel Simon, quando o espetáculo se apresenta no Teatro das Nações, em Paris. O crítico compara Cacilda Becker ao ator britânico Charlie Chaplin (1899-1977) e ao francês Jean Louis Barrault (1910-1994), e, depois de dizer que ela rompe sua pretensa frieza de especialista fazendo-o chorar, procura a origem da emoção no "rosto emaciado" [...]", nos "gestos pletóricos de garoto infeliz e arrogante", e afirma: "Poil de Carotte não pode ter mais, para mim e para muitos outros, de agora em diante, outro rosto senão o seu".

Em 1953, volta ao cinema em Floradas na Serra, do diretor de cinema italiano Luciano Salce (1922-1989), sendo sua atuação natural novamente destaque entre a crítica da época. Em 1955, é antagonista de sua irmã, a também atriz Cleyde Yáconis (1923-2013), em Maria Stuart, do poeta e filósofo alemão Friedrich von Schiller (1759-1805), dirigida pelo polonês Zbigniew Ziembinski (1908-1978).
Na televisão, Cacilda viaja por São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, apresentando peças de Teatro pela TV Cultura, em 1956, e o programa de teleteatro Teatro Cacilda Becker pela TV Record, em 1958.

No mesmo ano, funda o grupo Teatro Cacilda Becker (TCB) ao lado de Cleyde Yáconis, do ator Walmor Chagas (1930-2013), de Ziembinski e do ator e fotógrafo alemão Fredi Kleemann (1927-1954), onde desempenha sua carreira durante 22 anos, com espetáculos como A visita da Velha Senhora (1962), do dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-1990). Em 1965, é premiada com medalha de ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais (ABCT) como melhor atriz do ano pelas peças A Noite do Iguana, do americano Tennessee Williams (1911-1983), e O Preço de um Homem, do francês Steve Passeur (1899-1966).

Em 1968, volta a atuar na televisão, com o Teatro Cacilda Becker, na TV Bandeirantes, mas é demitida no mesmo ano sob a alegação de que suas interpretações são subversivas, efeito da ditadura militar (1964-1985). Neste momento, Cacilda passa a ter um papel militante nas causas da classe artística. A atriz assume a presidência da Comissão Estadual de Teatro de São Paulo, lugar que enfrenta a repressão em defesa dos direitos dos artistas e produtores. Ao lado de Augusto Boal (1931-2009), diretor de Primeira Feira Paulista de Opinião (1968), defende a encenação do espetáculo na íntegra, ignorando os cortes realizados pela censura. Sua convicção faz com que os censores e agentes federais presentes no teatro acatem sua decisão e assistam ao espetáculo.

Durante a apresentação do espetáculo Esperando Godot, que encenava com o marido, Walmor Chagas, na capital paulista, em 6 de maio de 1969, Cacilda sofreu um derrame cerebral e foi levada para o hospital, ainda com as roupas de sua personagem. Morreu após 38 dias de coma e foi sepultada no Cemitério do Araçá, com a presença de uma multidão de admiradores.

Cacilda Becker é considerada uma das maiores atrizes do teatro brasileiro, sua atuação extrapola os palcos e chega ao rádio e à televisão, transitando entre diferentes modos de fazer e pensar a dramaturgia no Brasil. (daqui)


Louise Abbéma, Sarah Bernhardt hunting with hounds, ca. 1897. Oil on canvas.
 
 
Sarah Bernhardt  foi uma atriz francesa nascida a 23 de outubro de 1844, em Paris, e falecida a 26 de março de 1923, na mesma cidade, vítima de infeção renal. Foi considerada a maior atriz teatral do século XIX. Em 1862, estreou-se na Comédie-Française com Iphigénie e, dois anos depois, surgiu no Ódeon, onde começou a ganhar notoriedade. Representou por diversas vezes Shakespeare, inclusive em papéis masculinos. Entre 1882 e 1895, viajou por todo o mundo, tendo celebrizado a sua personagem Marguerite Gautier de A Dama das Camélias. Embora confidenciasse a amigos e a próximos que abominava cinema, estreou-se nestas lides em 1900, no papel masculino de Hamlet em Le Duel d'Hamlet. Em 1909, por ter detestado a sua atuação em La Tosca, ordenou que queimassem os negativos, o que fez com que o filme não estreasse comercialmente. Contribuiu para a credibilização do cinema mudo com participações em La Dame aux Camélias (1910), Les Amours de la Reine Élisabeth (1912), Camille (1912), Adrienne Lecouvreur (1913) e Jeanne Dore (1915). Em 1915, por complicações metabólicas, viu-se obrigada a amputar uma perna o que motivou o fim da sua carreira teatral. O seu último filme foi La Voyante (1923) com condições de rodagem muito peculiares: como a condição de saúde da atriz não lhe permitia sair do quarto de hotel em que se encontrava hospedada, a equipa de filmagem trouxe o material para o quarto, filmando a atriz em grandes planos sentada ou deitada na cama. Mas uma cólica renal fulminante provocou a morte da atriz, permanecendo assim o filme inacabado. (daqui)

 

Louise Abbéma, A Faithful Companion. Oil on canvas, 64.8 x 48.9 cm.
 
 
 
Belle Époque
 
A Belle Époque foi o período que decorreu na Europa entre 1890 e 1914, ano em que começou a Primeira Guerra Mundial. 
A expressão Belle Époque, contudo, só surgiu depois do conflito armado para designar um período considerado de expansão e progresso, nomeadamente a nível intelectual e artístico. Nesta época surgiram inovações tecnológicas como o telefone, o telégrafo sem fio, o cinema, o automóvel e o avião, que originaram novos modos de vida e de pensamento, com repercussões práticas no quotidiano.

Foi uma fase de grande desenvolvimento na Europa, favorecida pela existência de um longo período de paz. Países como a Alemanha, o Império Austro-Húngaro, a França, a Itália e o Reino Unido aproveitaram para se desenvolver a nível económico e tecnológico. Tratou-se de uma época de otimismo entre a população que passou a ter uma grande crença no futuro. Simultaneamente, os trabalhadores começaram a organizar sindicatos e partidos políticos, nomeadamente os socialistas.

Nas grandes cidades o ambiente mudou radicalmente, o que era visível nas principais avenidas, onde se multiplicavam os cafés, os cabarets, os ateliers, a galerias de arte e as salas de concertos, espaços frequentados pela média burguesia, que tinha cada vez mais posses. O núcleo da Belle Époque era Paris, na altura o centro cultural do mundo. 
 
Durante a Belle Époque surgiram três correntes artísticas a nível da pintura, o fauvismo (Matisse foi o seu maior representante), o cubismo (onde se destacou Picasso) e o impressionismo (com Claude Monet como iniciador). 
A nível literário a época ficou marcada pelo surgimento de novos géneros, como os romances policiais e de ficção científica, onde se destacaram os heróis solitários, como Arsène Lupin ou Fantômas, que se mascaravam e usavam armas modernas e inovadoras. 
Houve também grandes progressos a nível da química, da eletrónica e da siderurgia, assim como da medicina e da higiene, o que permitiu fazer baixar as taxas de mortalidade. 
 
Uma das formas encontradas para celebrar todos estes progressos, foi a organização da Exposição Universal de Paris, que teve lugar em 1900, nos Campos Elísios e nas margens do rio Sena.
A Belle Époque terminou com o eclodir da Primeira Guerra Mundial, nomeadamente porque as notáveis invenções daquele período passaram a ser utilizadas como tecnologia de armamento. (daqui)
 

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