terça-feira, 13 de setembro de 2011

"A única crítica é a gargalhada!" - Texto de Eça de Queirós


Artur Loureiro (Porto, 1853 - Gerês, 1932), O pão político, ca. 1924

“(…) A única crítica é a gargalhada!
Nós bem o sabemos: a gargalhada nem é um raciocínio, nem um sentimento; não cria nada, destrói tudo, não responde por coisa alguma. E no entanto é o único comentário do mundo político em Portugal.
Um Governo decreta? Gargalhada.
Reprime? Gargalhada. Cai? Gargalhada. E sempre esta política, liberal ou opressiva, terá em redor dela, sobre ela, envolvendo-a como a palpitação de asas de uma ave monstruosa, sempre, perpetuamente, vibrante, e cruel - a gargalhada!
Política querida, sê o que quiseres, toma todas as atitudes, pensa, ensina, discute, oprime - nós riremos. A tua atmosfera é de chalaça.

Eça de Queirós, in 'Uma Campanha Alegre


Artur Loureiro, The Death of Burke, 1892, private collection 
 

Uma Campanha Alegre


Obra publicada em 1890-1891, em dois volumes, que reúne os folhetins escritos por Eça de Queirós em As Farpas, onde o autor traça um panorama crítico da sociedade, da vida política, da religião, da opinião pública, do jornalismo e da literatura do seu tempo - temas tratados com humor e ironia, que atravessam a sua obra de romancista voltada para o inquérito à vida social, sobretudo os romances da fase dita realista-naturalista. 

Dos vários artigos, saliente-se, no "Estudo social de Portugal em 1871", o panorama geral da época contemporânea deveras desanimador: "O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. (...) Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida..."). Atente-se, igualmente, pela recorrência do tema na obra de ficção do autor, nos artigos "As meninas da geração nova em Lisboa e a educação contemporânea" e "O problema do adultério", que se debruçam sobre o problema do adultério e das suas causas sociais e morais, quase sempre relacionadas com uma educação mal orientada. Os artigos abordam, contudo, variadíssimas questões, desde reflexões sobre a religião e sobre a educação religiosa, até considerações acerca do exercício do poder político.

No domínio da literatura, Eça critica sobretudo o lirismo convencional e hipócrita do Romantismo tardio, bem como o romance passional, que considera ter consequências negativas na educação feminina. (daqui)
 

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