segunda-feira, 26 de setembro de 2011

"Quadras soltas" - Poemas de António Aleixo


Victor Brauner, Dancing girl, 1934


 Quadras soltas


De te ver fiquei repeso,
Em vez de ganhar perdi;
Quis prender-te, fiquei preso,
E não sei se te prendi.

A começar pelo «urso»
De Coimbra, a estudantada,
Só quando se acaba o curso,
Sabe que não sabe nada.

Alheio ao significado,
Diz o povo, e com razão,
Quando ouve um grande aldrabão:
- Dava um bom advogado.

Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência!

Foste beijar o menino,
Quando, afinal eu vi bem
Que beijaste o pequenino
Porque gostavas da mãe.

Sem que o discurso eu pedisse,
Ele falou; e eu escutei,
Gostei do que ele não disse;
Do que disse não gostei.

Para não fazeres ofensas
E teres dias felizes,
Não digas tudo o que pensas,
Mas pensa tudo o que dizes.

Sei que pareço um ladrão...
Mas há muitos que eu conheço
Que não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço.




Victor Brauner, The Surrealist, 1947


"Um Homem percorre o mundo inteiro em busca daquilo que precisa e volta a casa para encontrá-lo."

George Moore, The Brook Kerish


Susana Félix - Amanhecer

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