sábado, 24 de setembro de 2011

"Maria" - Poema de Antero de Quental


Alfred Stevens (Belgian painter,1823-1906), Lighthouse at dusk


Maria

 
Tenho cantado esperanças...
Tenho falado d'amores...
Das saudades e dos sonhos
Com que embalo as minhas dores...

Entre os ventos suspirando
Vagas, ténues harmonias,
Tendes visto como correm
Minhas doidas fantasias.

E eu cuidei que era poesia
Todo esse louco sonhar...
Cuidei saber o que é vida
Só porque sei delirar...

Só porque à noite, dormindo
Ao seio d'uma visão,
Encontrava algum alívio,
Meu dorido coração,

Cuidei ser amor aquilo
E ser aquilo viver...
Oh! que sonhos que se abraçam
Quando se quer esquecer!

Eram fantasmas que a noite
Trouxe, e o dia já levou...
À luz d'estranha alvorada
Hoje minha alma acordou!

Esquecei aqueles cantos...
Só agora sei falar!
Perdoa-me esses delírios...
Só agora soube amar!


Antero de Quental 




"Ver é obra da poesia. Dizer é obra do poema. Dizer bem é artesanato. Mas ninguém pode dizer bem o que viu mal. Um poema puramente artesanal não existe."

(Sophia de Mello Breyner Andresen)


Danúbio Azul
Johann Strauss 

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