sábado, 3 de março de 2012

"Maria" e "O Divino" - Poemas de Rainer Maria Rilke e Johann Wolfgang von Goethe


 
Salvador Dali, Maria conferens in corde suo (Matthew 1:23), 1964-1967



Maria


Não tivesses tu simplicidade, como poderia
acontecer-te o que agora a noite enche de luz?
Vê, o Deus que sobre os povos em ira ardia
torna-se manso e em ti ao mundo vem Jesus.

Terias imaginado maior esse Menino?

O que é a grandeza? Através de toda a medida
pela qual Ele passa, se traça o Seu vertical destino.
Nem mesmo um astro tem uma rota assim erguida.
Vês, estes reis são grandes, imponentes,

diante de ti depositam presentes

que tomam por tesouros sem par,
e talvez te assombre a oferenda que aí está:
mas para as pregas dos teus panos dirige teu olhar,
vê como Ele tudo supera já.

Todo o âmbar que se envia para a distância

Todas as jóias de ouro e especiaria do ar,
que turvando-se nos sentidos se vêm envolver:
tudo isto rapidamente veio a terminar,
e por fim todos se vieram a arrepender.

Mas, hás-de ver, Ele enche de alegria toda a ânsia.


Rainer Maria Rilke, A Vida de Maria,
(Tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado), 
Lisboa: Portugália Editora, 2008, p. 67.


 
Amelia Jane Murray or Lady Oswald (British, 1800-1896), Ilustração: Fada
 
 

O Divino 


Nobre seja o homem, 
Caridoso e bom! 
Pois isso apenas 
É que o distingue 
De todos os seres 
Que conhecemos. 

Glória aos incógnitos 
Mais altos seres 
Que pressentimos! 
Que o homem se lhes iguale! 
Seu exemplo nos ensine 
A crer naqueles! 

Pois insensível 
É a natureza: 
O sol espalha luz 
Sobre maus e bons, 
E ao criminoso 
Brilham como ao santo 
A lua e as estrelas. 

Vento e torrentes, 
Trovão e saraiva 
Rugem seu caminho 
E agarram, 
Velozes passando, 
Um após outro. 

Tal a sorte às cegas 
Lança mãos à turba 
E agarra os cabelos 
Do menino inocente 
Ou a fronte calva 
Do velho culpado. 

Por eternas leis, 
Grandes e de bronze, 
Temos todos nós 
De fechar os círculos 
Da nossa existência. 

Mas somente o homem 
Pode o impossível: 
Só ele distingue, 
Escolhe e julga; 
E pode ao instante 
Dar duração. 

Só ele é que pode 
Premiar o bom, 
Castigar o mau, 
Curar e salvar, 
Unir com proveito 
Tudo o que erra e divaga. 

E nós veneramos 
Os Imortais 
Como se homens fossem, 
Em grande fizessem 
O que em pequeno o melhor de nós 
Faz ou deseja. 

Que o homem nobre 
Seja caridoso e bom! 
Incansável crie 
O útil, o justo, 
E nos seja exemplo 
Dos Seres pressentidos.


 Tradução de Paulo Quintela 



Amelia Jane Murray or Lady Oswald, Ilustração: Fada


"Orar não é pedir. Orar é a respiração da alma. Como o corpo que se lava não fica sujo, sem oração se torna impuro." - Mahatma Gandhi


Fritz Zuber-Buhler, The Spirit Of The Morning, c. 1896
 

"Existe uma única estrada e somente uma, e essa é a estrada que eu amo. Eu a escolhi. Quando trilho nessa estrada as esperanças brotam, e, o sorriso se abre em meu rosto. Dessa estrada nunca, jamais fugirei." - Daisaku Ikeda

[Daisaku Ikeda (Tóquio, Japão, 2 de janeiro de 1928) é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista japonês. Foi galardoado em 2007 com o Prémio Mundial do Humanismo pela Academia do Humanismo da Macedónia.]


Charles Edward Perugini (1839 – 1918)


"Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos." - Victor Hugo


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