sábado, 3 de março de 2012

"As Bolas de Sabão" - Poema de Alberto Caeiro


Adolf Lins (1856-1927), Blowing Bubbles, 1885 



As Bolas de Sabão


As bolas de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.
Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,

Amigas dos olhos como as coisas,
São aquilo que são
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
Pretende que elas são mais do que parecem ser.

Algumas mal se vêem no ar lúcido.
São como a brisa que passa e mal toca nas flores
E que só sabemos que passa
Porque qualquer coisa se aligeira em nós 
E aceita tudo mais nitidamente.

11-3-1914

Alberto Caeiro, “O Guardador de Rebanhos”
(Heterónimo de Fernando Pessoa)


Vanessa Carlton - Pretty Baby


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