sábado, 17 de março de 2012

"A tua morte em mim" - Poema de Adolfo Casais Monteiro




A tua morte em mim 
À memória de Raquel Moacir 


A tua morte é sempre nova em mim.
Não amadurece. Não tem fim.
Se ergo os olhos dum livro, de repente
tu morreste.
Acordo, e tu morreste.
Sempre, cada dia, cada instante,
a tua morte é nova em mim,
sempre impossível.

E assim, até à noite final
irás morrendo a cada instante
da vida que ficou fingindo vida.
Redescubro a tua morte como outros
descobrem o amor,
porque em cada lugar, cada momento,
tu estás viva.

Viverei até à hora derradeira a tua morte.
Aos goles, lentos goles. Como se fosse
cada vez um veneno novo.
Não é tanto a saudade que dói, mas o remorso.
O remorso de todo o perdido em nossa vida,
coisas de antes e depois, coisas de nunca,
palavras mudas para sempre, um gesto
que sem remédio jamais teve destino,
o olhar que procura e nunca tem resposta.

O único presente verdadeiro é teres partido. 


Adolfo Casais Monteiro,
in 'O Estrangeiro Definitivo' 

[Adolfo Casais Monteiro morre prematuramente em 1972, com a saúde muito debilitada, depois da morte de Raquel Moacir, com quem vivia, tendo-se separado de Alice Pereira Gomes (irmã de Soeiro Pereira Gomes) depois de estar no Brasil. (Daqui)]




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