Poema pouco original do medo
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos.
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles.
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados.
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer).
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos.
Alexandre O'Neill
Maria João - A Outra
"É bastante fácil fazer surgir sentimentos na alma das multidões, mas é dificílimo refreá-los. Desenvolvendo-se, convertem-se em forças que não é possível dominar."
Gustave Le Bon
Gustave Le Bon, psicólogo social francês, nasceu em 1841 em Nogent-le-Rotrou, França, e faleceu em 1931, em Paris.
Após concluir estudos em medicina, empreendeu viagens pela Europa, Norte de África e Ásia que lhe ofereceram material para vários escritos nas áreas da antropologia e da arqueologia.
As suas numerosas obras abrangem temas de biologia, psicologia, antropologia, química e física. Mas foram as suas tentativas para encontrar uma explicação cientificamente credível das multidões e da sua ação que o notabilizaram. É pioneiro nos estudos acerca da natureza do comportamento coletivo.
Na sua obra As Leis Psicológicas da Evolução dos Povos (1894) desenvolveu a teoria de que a história resulta de características nacionais e raciais e de que a força dominante da evolução social não é a razão, mas a emoção.
Em A Psicologia das Massas (1895), a sua obra mais difundida, defende que, numa multidão, a personalidade do indivíduo é dominada pelo comportamento coletivo. Assim, as suas formulações vieram a ser incluídas entre as "teorias do contágio", que descrevem o comportamento da multidão como uma resposta irracional e cega à situação psicológica criada pela circunstância da multidão. Para Le Bon, a energia das multidões influencia todos os acontecimentos da vida social e política.
Obras principais de Le Bon:
1894, As Leis Psicológicas da Evolução dos Povos
1895, Psicologia das Massas
Gustave Le Bon. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-03-19].
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