sexta-feira, 15 de abril de 2016

"Pastor do Monte, Tão Longe de Mim" - Poema de Alberto Caeiro


António da Silva Porto, Guardando o rebanho, 1893. Óleo sobre tela, 160 cm x 200 cm.
A pintura pertence ao Museu Nacional de Soares dos Reis do Porto



Pastor do Monte, Tão Longe de Mim


Pastor do monte, tão longe de mim com as tuas ovelhas 
Que felicidade é essa que pareces ter — a tua ou a minha? 
A paz que sinto quando te vejo, pertence-me, ou pertence-te? 
Não, nem a ti nem a mim, pastor. 
Pertence só à felicidade e à paz. 
Nem tu a tens, porque não sabes que a tens. 
Nem eu a tenho, porque sei que a tenho. 
Ela é ela só, e cai sobre nós como o sol, 
Que te bate nas costas e te aquece, e tu pensas 
noutra cousa indiferentemente, 
E me bate na cara e me ofusca. e eu só penso no sol. 


Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" 
Heterónimo de Fernando Pessoa


Max Liebermann, Woman and Her Goats in the Dunes, 1890
 

"Amor, fascinante amor, o campo é o teu templo." 



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