terça-feira, 19 de abril de 2016

"Elas" - Poema de Maria Teresa Horta



ELAS 


Elas 
Iludem as escurezas
dos rostos
a negrura das nódoas
do corpo

desatam os nós que lhes
atardam, atam e algemam
a alma e os pulsos

Conversam entre si
coisas de enredo
lançam Luz nos recantos
das vagas

Trocam receitas de venenos
murmuram palavras escusas
desejos inolvidáveis

‘Oh, que dureza ruim!
Ataduras e debruns
missanga de muita estrela

Cassiopeia, raízes
sangrantes
das próprias veias’

Elas 
inventam a mata
na clareira assombrada
embrenhadas na vigília

Recriam, criam, dominam

Viram pombas, profetizas
com uma alvura de cera
pálidas rosas da China

‘Oh, tormenta amendoada
solidões desirmanadas
enquanto de madrugada

Cavam, enterram, devassam
pespontando com o riso
as dobras do calamento’

Elas 
bradam, elas buscam
sibilas e amazonas
emudecem as camélias
e as roseiras nervosas

Feiticeiras ardilosas
filhas da harmonia
partilham as tempestades

Derrubam, suturam, fiam

‘Oh doçuras sigilosas
no aço do destempero
de incêndios e desesperos

Virados pelo avesso
a paixão e a razão
entre si tão divididas’

Elas
recusam, derrubam
dominam as próprias vidas
com a sua inteligência

Tornam-se donas do tempo
a semearem agruras
pelos meandros do vento.


Março de 2016


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