ELAS
Elas
Iludem as escurezas
dos rostos
a negrura das nódoas
do corpo
desatam os nós que lhes
atardam, atam e algemam
a alma e os pulsos
Conversam entre si
coisas de enredo
lançam Luz nos recantos
das vagas
Trocam receitas de venenos
murmuram palavras escusas
desejos inolvidáveis
‘Oh, que dureza ruim!
Ataduras e debruns
missanga de muita estrela
Cassiopeia, raízes
sangrantes
das próprias veias’
Elas
inventam a mata
na clareira assombrada
embrenhadas na vigília
Recriam, criam, dominam
Viram pombas, profetizas
com uma alvura de cera
pálidas rosas da China
‘Oh, tormenta amendoada
solidões desirmanadas
enquanto de madrugada
Cavam, enterram, devassam
pespontando com o riso
as dobras do calamento’
Elas
bradam, elas buscam
sibilas e amazonas
emudecem as camélias
e as roseiras nervosas
Feiticeiras ardilosas
filhas da harmonia
partilham as tempestades
Derrubam, suturam, fiam
‘Oh doçuras sigilosas
no aço do destempero
de incêndios e desesperos
Virados pelo avesso
a paixão e a razão
entre si tão divididas’
Elas
recusam, derrubam
dominam as próprias vidas
com a sua inteligência
Tornam-se donas do tempo
a semearem agruras
pelos meandros do vento.
Março de 2016
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