terça-feira, 25 de março de 2025

"Os países inexistentes" - Poema de Múcio Leão

 

Thomas Cole (English-born American artist and the founder of the Hudson River School 
art movement, 1801–1848), The Titan's Goblet, 1833,
 Metropolitan Museum of Art, New York.


Os países inexistentes


- Queres partir comigo para países muito distantes,
Para países que dormem,
Embalados por oceanos que ninguém conhece?

Oh! Vamos juntos! Vamos partir para esses meus mundos misteriosos!
Levar-te-ei a planícies brancas, cobertas de neve como as do Alaska.
Verás que há na altura um sol gelado, envolto na poeira nívea da neve.
E verás que um vento - um vento que uiva nos montes alvos -
Vem beijar teus cabelos cheirosos.

Levar-te-ei a montanhas encantadas, onde habitam dragões de olhos de fogo.
Verás que no céu as estrelas se desfazem,
Mandando raios doirados coroarem tua fronte serena.
Levar-te-ei às ilhas paradisíacas,
Que estão dormindo no ritmo das ondas mansas.
Lá as árvores cheias de sombras são feitas de humanas ternuras
E os pássaros que cantam têm uma voz límpida como violinos.

Levar-te-ei a esses mundos estranhos,
A esses mundos formosos que nunca ninguém viu.

E tu hás de repousar a cabeça no meu peito,
Deslumbrada pelos meus países inexistentes. 


Múcio Leão, in "Poesias", 1949.

Sem comentários: